São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 1994
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Sem medo de competir

Como era de esperar, o debate acerca do monopólio do petróleo no país vem ganhando fôlego com o andamento, ainda que lento, da revisão constitucional. A importância do tema sem dúvida justifica uma ampla discussão, já que o fim da arcaica figura dos monopólios constitui uma das reformas modernizantes mais urgentes no país.
Nesse sentido, um estudo divulgado ontem por esta Folha veio trazer uma relevante contribuição para o debate. Elaborado pela Cambridge Energy Research Associates dos EUA, o trabalho compara a produção média de petróelo e gás por empregado da Petrobrás na área de exploração contra aquela de funcionários de outras empresas.
Segundo a entidade, a Petrobrás tem uma taxa de 33 barris por funcionário, muito inferior aos 98, em média, obtidos pela mexicana Pemex, a YPF argentina e a PDVSA da Venezuela. O contraste é ainda mais gritante quando inclui as grandes multinacionais privadas como a Exxon e a Shell. Essas companhias chegam a produzir em média 130 barris para cada empregado.
A Petrobrás, por sua vez, contra-argumenta que as empresas citadas operam em condições muito diversas. A comparação adequada deveria considerar a exploração praticada em condições semelhantes e aqui, sempre de acordo com a estatal, o seu custo de produção na bacia de Campos (RJ) seria até inferior àquele registrado, por exemplo, no Mar do Norte europeu.
Polêmica à parte, o que chama a atenção é que a Petrobrás se considera tão eficiente quanto empresas de todo o mundo, ou até mais. Ora, se essa suposta paridade existe mesmo, a estatal não teria nada a temer com a quebra do monopólio. Pelo contrário, deveria defendê-la até para encerrar as suspeitas que recaem sobre sua eficiência –suspeitas, aliás, justificadas, já que a o monopólio distorce o funcionamento do mercado e impede uma avaliação definitiva da empresa
De todo modo, a discussão mais relevante versa não sobre o que interessa à Petrobrás, mas sim sobre o que interessa ao país. E quanto a isso não há dúvida, a sociedade só tem a ganhar com a quebra do monopólio e com a abertura do setor petrolífero à competição.

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