São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 1994
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A pedra e a prece

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Temos sempre que aprender, contemplando Jesus Cristo. Diante dos erros e faltas, sua atitude era de perdoar e ajudar a pessoa a se refazer.
Quando trouxeram à sua presença a mulher surpreendida em pecado, inclinou-se e escrevia com o dedo na terra (Jo, 8). Aos que a acusavam e pretendiam apedrejá-la, disse: "Quem estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar a pedra". E inclinando-se de novo, escrevia na terra. Retirou-se um acusado após o outro. Ficou só Jesus e a mulher. Pediu a ela que não pecasse mais e a libertou.
Diante das falhas do próximo, deixemos a pedra no chão e procuremos auxiliar quem errou. Façamos uma prece para que possa se corrigir e acertar. Isto não significa que relativizamos o que está errado ou desconhecemos o mal praticado. Trata-se de aprender com Cristo que o mais importante é o bem do próximo. Queremos que a pessoa rapidamente corrija e supere sua falta e recupere a sua paz.
Após os excessos do Carnaval, de gastos, bebidas, desmandos morais e violência, voltemos o olhar para o bem do Brasil. A Campanha da Fraternidade aponta para a família. Entre os pontos a corrigir e melhorar, escolhemos o mais urgente.
A família, como vai? Faltam, sem dúvida, condições de vida digna para milhões de brasileiros. Basta lembrar a precariedade das moradias e a dificuldade de emprego. No entanto, a carência maior é de valores morais.
Diminui o respeito mútuo. O relacionamento sexual perdeu, aos poucos, o seu sentido profundo de doação total e permanente. A atual insistência no uso dos preservativos confunde as consciências, como se tudo fosse moralmente permitido, desde que, reduzam os riscos de contágio. Busca-se o prazer e nada mais. Assim, o vínculo conjugal torna-se frágil, episódico e pouco resiste às provações.
A primeira exigência da Campanha da Fraternidade deve ser a redescoberta do verdadeiro amor, à luz dos valores cristãos. É esse amor que está na raiz do matrimônio feito de doação de si ao outro e vontade de fazê-lo feliz. Na entrega recíproca dos cônjuges, encontra-se a origem da vida. Na intenção de Deus, a pessoa humana nasce desse amor. A criança, amada pelos pais, aprende também ela a amar e fazer bem aos outros. Esse amor não exclui sacrifícios. Pelo contrário. É ele que sustenta e faz crescer o afeto e a união nos momentos de doença, distância e vicissitudes árduas da vida. É esse amor que dá sabor à comunhão de bens e à partilha das alegrias.
Jesus Cristo nos ensina a descobrir a beleza desse amor. Auxiliemos os jovens para que possam acreditar no casamento e na família fiel, unida e feliz.
A família será a célula da sociedade, não só por ser a comunidade primeira, mas porque nela havemos de aprender e procurar viver o "mandamento do amor" que nos abre ao apreço, respeito, estima e doação ao próximo. Sem esse amor, continuaremos a ter uma sociedade marcada pelo egoísmo, cobiça e violência. Continuarão a corrupção, as CPIs e toda série de frustrações. Há muito que corrigir. Mas deixemos as pedras no chão. A prece pessoal e em família alimentará a esperança de construirmos dia a dia a sociedade fraterna.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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