São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Especialistas negam que URV exigirá mídi de 15%

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Alguns dizem que é de 15%, outros garantem que chega a 20%. Seria esse o atraso da taxa de câmbio oficial e o quanto o governo teria de ajustar sua cotação antes de criar a URV (Unidade Real de Valor), indexador que será equivalente ao dólar, levando junto o preço praticado no mercado paralelo.
Só que, até agora, ninguém no mercado financeiro tem coragem de apostar nessa direção. O motivo é que ninguém acredita que isso seja necessário e raros são aqueles com disposição de enfrentar o Banco Central e sua montanha de mais US$ 33 bilhões.
"O Brasil é o único país do mundo em que as pessoas acham que a média é igual ao comportamento individualizado de cada preço", afirma o economista Adroaldo Moura da Silva, diretor da Silex Trading. "Média é média e o câmbio ideal é aquele em que o país consegue resguardar suas exportações."
Segundo Cândido Botelho Bracher, diretor financeiro do Banco BBA, o discurso de que o governo precisa realizar um ajuste no câmbio provém exclusivamente dos lobistas de plantão. "É uma idiotice sem tamanho", afirma. "Essa mididesvalorização seria comida no dia seguinte pelos efeitos na inflação, logo de cara, já na partida da URV."
O mercado financeiro, segundo Marcelo Adorno, diretor da Corretora Tryccom, não está antecipando nenhum movimento de proteção. O resumo disso tudo é que comprar dólar no mercado paralelo com o objetivo de tentar ganhar dinheiro com a possibilidade de uma mididesvalorização do dólar oficial é totalmente desaconselhado pelos especialistas.
Custo alto
Emanuel Pereira da Silva, diretor do Banco Cindam, lembra que comprar dólar agora representa um custo muito grande em relação ao juro praticado no mercado de cruzeiros reais. "Não recomendo de jeito nenhum", afirma. "Quando chegar mais perto da implantação da URV, se der uma dor de barriga, vou, no máximo, ficar fora do mercado."
O melhor a fazer, segundo os analistas, é passar a negociar contratos e negócios pela cotação do dólar comercial, abandonando o paralelo. No final das contas, o que vai valer na frente é que os mercados de câmbio não terão ágio, nem deságio. A criação da URV (Unidade Real de Valor) será o passo final para estalecer o fim do mercado paralelo de dólar, por ter como meta a unificação das cotações do câmbio.
Segundo o economista Moura da Silva, nada é irreversível na vida, mas a continuidade do programa econômico do governo vai resultar na extinção do "black", ou limitar sua existência aos negócios feitos por criminosos de um modo geral.

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