São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Sem hora marcada, estrela nasce das irregularidades do Universo

HÉLIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

É praticamente impossível determinar o momento exato em que uma estrela nasce, que é quando um agrupamento de gás e poeira cósmica pode receber o título de "estrela".
Segundo o astrofísico francês Philippe André, "o tempo zero, quando se pode dizer que já há um embrião de estrela, é o momento em que se forma um núcleo de dimensões estelares, comparáveis ao Sol". Sobre esse núcleo, agrupamentos de matéria se precipitam.
As estrelas se formam em nuvens de gás e poeira –sobretudo hidrogênio– como a nebulosa "Rho Ophiuchi" (veja foto). Essas nuvens não são completamente homogêneas. As irregularidades na distribuição do gás e da poeira vão aumentando em função da gravitação –matéria atrai matéria.
Em dado momento, há regiões da nuvem com mais matéria do que outras regiões, formando agrupamentos. A gravitação faz com que esses agrupamentos, instáveis, acabem se precipitando sobre si mesmos. "Há uma fase bastante longa, durante a qual se formam os agrupamentos, em que há uma espécie de equilíbrio entre as forças gravitacionais e as forças devidas ao campo magnético. Em um dado momento, a gravitação vence e tudo acontece muito rápido: o agrupamento se precipita e forma um núcleo no centro", diz André.
No começo, não há uma região muito densa no núcleo. A partir de um instante crítico, o calor gerado pela precipitação não consegue escapar. Forma-se, então, um núcleo "duro", basicamente de hidrogênio, que será a futura estrela. Em seguida a estrela passa a atrair a matéria do casulo ao redor e a crescer em massa. É nessa fase que se encontra a "bebê" VLA 1623.
Forças centrífugas fazem com que a matéria do casulo, em rotação desde o início, adquira a forma de um disco –antecessor de futuros planetas. O aquecimento torna a estrela visível. "Quando a temperatura interna é elevada o bastante, reações de fusão nuclear 'queimam' o hidrogênio, e temos uma estrela de hélio, como o Sol."
Segundo André, a observação de estrelas em formação, como a VLA 1623, só se tornou possível há pouco tempo, com o advento de radiotelescópios capazes de detectar a radiação emitida por objetos muito frios. "Só pudemos começar a fazer essas observações nos últimos cinco anos."
Para estudar a estrela-bebê, André usou principalmente dois radiotelescópios: o do Iram (Instituto de Radioastronomia Milimétrica), em Granada (Espanha), e o JCMT (Telescópio James Clerk Maxwell), no Havaí (EUA). A proto-estrela VLA 1623 recebeu esse nome por ter sido a 1623ª fonte de rádio detectada com o telescópio "Very Large Array" (VLA), no Novo México (EUA), em 1987. Desde 1991, as conclusões já permitiam apontar que se tratava de uma proto-estrela. Na sua vizinhança há outros quatro agrupamentos de matéria que não são proto-estrelas (veja foto). (HGz)

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