São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 1994
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O sumo prazer do ordinário

Além do prazer em ler as descrições sexuais de Arno (os textos que ele escreve para excitar suas vítimas são ultramasturbatórios), Nicholson Baker ainda oferece em "The Fermata" a mesma delicadeza de suas descrições cotidianas de "The Mezzanine" (seu primeiro trabalho).
Entre uma sacanagem e outra, é uma satisfação vê-lo descrever algo ordinário como o ato de espremer na colher o saco de chá com o barbante e ainda ler: "Eu nunca tinha sido exposto a esse método de usar um saco de chá usado... e eu não preciso muito mais do que isso para me apaixonar".
Esse estilo agora serve à pornografia de "Fermata", descrevendo uma ejaculação ("quatro tiras cinzas de paternidade e derivados de paternidade") ou uma genitália (uma "grande e gorda Georgia O'Keeffe"). Ou ainda, no incoveniente de ver mulheres nuas com visão raio-x e perceber que, com o sutiã invisível, os bicos do seios de uma mulher pareceriam comprimidos contra o vidro.
Uma "fermata" é um símbolo musical de uma pausa indefinida. É assim que Arno chama suas paradas no tempo –e é dentro de uma delas que você se sente lendo esse livro: suspenso no universo enquanto os detalhes da sua vida (e de suas fantasias) vão passando.

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