São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 1994
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Uma batalha perdida

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Alguns amigos do presidente Itamar Franco descobriram, demasiado tarde, que o governo está perdendo a batalha da comunicação. Como o atual porta-voz do presidente, o jornalista Francisco Baker, está indo para o Fundo Monetário Internacional em Washington, vão tentar aproveitar a oportunidade para uma virada no jogo.
O jornalista Ruy Lopes, que foi durante muitos anos desta Folha, é o nome mais cotado para assumir o cargo. Já esteve no Palácio do Planalto, em busca de informações para tentar montar um raio-X do esquema de comunicação da Presidência.
Ruy Lopes leva sobre Baker uma vantagem: tem com o presidente uma intimidade que Baker jamais teve. O atual porta-voz foi sempre um estranho no ninho, obrigado a tomar cuidados extremos ao passar informações até de importância bastante secundária, com receio de que o presidente mudasse de idéia minutos depois.
Mesmo assim, Ruy Lopes, se de fato assumir, dificilmente vai conseguir ganhar a tal batalha da comunicação. Primeiro porque o presidente não ajuda. Segundo, porque muitos dos amigos do presidente, além de não ajudar, atrapalham.
Exemplo: a boataria sobre a suposta renúncia de Itamar, irritado com a onda em torno da moça sem calcinha em seu camarote. Tudo indica que o presidente de fato fez um desabafo que autorizava acreditar-se em um gesto extremo. Mas não era para valer. Soava mais como promessa de fumante de deixar de fumar na semana que vem.
Mas algum amigo de Itamar fez vazar o desabafo que acabou aparecendo nos jornais, ainda que discretamente. Um presidente enfastiado perde, de antemão, qualquer batalha de comunicação. Nem precisa de adversário.

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