São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 1994
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Inflação de malandragem

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Prosseguia ontem intenso debate dentro do governo sobre como regular os salários: temendo tungadas, lideranças sindicais anunciam greve geral. Mas já está acontecendo uma tungada provocada pela malandragem –algo que está passando quase despercebido.
É simples de entender. Os jornais divulgam intenções do governo. Aumento de impostos, por exemplo. E aí os empresários aumentam preventivamente seus preços. Só que nem sempre as intenções viram realidade –e mesmo assim os preços não baixam.
Anunciou-se aumento de impostos para as empresas. Prevendo elevação dos custos, algumas delas subiram seus preços. A consequência, o efeito arquibancada de futebol: a primeira fileira ergue-se para ver um lance; a segunda fileira, que não enxerga, também se levanta. No final, estão todos de pé. Assim funciona a inflação.
O aumento do imposto não foi aprovado pelo Congresso, mas os preços tinham subido. Perdeu, portanto, o trabalhador, podado em seu poder de compra. Pior: recebeu uma mordida maior do imposto, esse sim aprovado pelos parlamentares. Perdeu duas vezes.
Falou-se que as empresas seriam obrigadas a usar um novo indexador (URV). Mais uma corrida de preços, cada qual tentando colocá-lo o mais alto possível. Por conta dessa expectativa, a inflação ganhou mais fôlego no final do ano passado.
Agora o governo informa que o novo indexador não será obrigatório para o setor privado. Acontece que os preços já subiram, e o salários, especialmente das camadas mais vulneráveis, ficararam ainda mais defasados.
E ainda existe quem veja nos aumentos salariais o maior vilão da história.
PS: Orestes Quércia disse ontem que, em sua candidatura à Presidência, não será "bonzinho". Está, na realidade, se referindo aos dossiês que está preparando sobre seus adversários. Sua assessoria procura eventuais ligações entre uma empresa de engenharia onde Mario Covas trabalhava antes de retornar à política. Eles querem semear a suspeita de que essa empresa teria sido beneficiária da prefeitura de São Paulo na gestão de Covas. Frase reservada de Quércia sobre Covas: "Vamos passar com um trator por cima dele".

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