São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 1994
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Serra da Pipoca tenta negociar com seus credores

LUIZ FRANCISCO

LUIZ FRANCISCO; MARIA ALICE ROSA
DA AGÊNCIA FOLHA E

MARIA ALICE ROSA
A Serra da Pipoca Agropecuária admitiu ontem que seu pedido de autofalência, deferido pela Justiça da Bahia segunda-feira, foi uma medida "extrema". A intenção é "negociar para obter o alongamento do perfil da dívida da empresa", afirmou o diretor de marketing, William Cogo.
O especialista em direito falimentar Elias Katudjian, há 34 anos na área, estranha a iniciativa da holding: "Se quer apenas se recuperar, por que não pediu concordata ou vendeu uma de suas empresas?"
A Serra da Pipoca é uma holding que controla as empresas Peixe, Gomes da Costa, a rede de supermercados Unimar e franquias da Pizza Hut em Sergipe, Alagoas e Bahia. Cogo diz que a empresa concluiu ser a autofalência o caminho indicado. "Estamos preparados para liquidar a empresa, se for preciso". Ele disse que a falência foi pedida porque os bancos se recusaram a negociar as dívidas, que vencem neste semestre e provêm em sua maior parte da compra de 85 lojas da rede Paes Mendonça –agora Unimar.
Mamede Paes Mendonça, anterior proprietário da rede, foi nomeado síndico da massa falida pela juíza Maria d'Ajuda Nascimento Birindiba, da 1ª Vara Cível da Comarca de Jequié. Mamede tem 5% das ações da Unimar. "Ele é um credor pequeno", diz Cogo. Memede Paes Mendonça não foi localizado pela Folha.
Segundo especialistas em direito falimentar, a vantagem da autofalência em relação à concordata é o prazo de pagamento da dívida. A concordata prevê dois anos, com pagamento parcelado. Na autofalência o prazo dura o tempo do processamento da falência sem que a empresa tenha que pagar um tostão nesse período. "Não se sabe quanto tempo pode durar um processo destes", diz José Ribamar Tajra, há 53 anos na área.
A juíza permitiu à empresa operar durante o processo –direito garantido no artigo 74 da Lei de Falência, de 1945. Não é comum, porém, que o parecer sobre falência e prosseguimento dos negócios ocorra simultaneamente, segundo o advogado Katudjian. Após deferida a falência, é preciso que o síndico da massa falida mostre um diagnóstico da empresa e comprove a necessidade de continuar operando, o que demora alguns meses.
Até ontem, informa Cogo, pouco avanço era observado nas negociações entre empresa e credores. Eles passaram o dia inteiro reunidos em São Paulo. A Folha procurou a juíza e credores da empresa, que não atenderam alegando reuniões e audiências. A Serra da Pipoca deve US$ 110 milhões, tem um patrimônio de US$ 300 milhões e já foi ligada à Odebrecht. Quem controlava a Serra da Pipoca era uma empresa do grupo Odebrecht, a Kieppe. No ano passado a Kieppe vendeu a Serra para José Barichísio Lisboa, que foi vice-presidente da Odebrecht.

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