São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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Brasília lança nova safra de bandas até o fim do semestre

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez bandas novas estão lançando discos por selos independentes ou gravadoras, de outubro do ano passado ao segundo semestre desse ano. Nada demais, se as bandas em questão não fossem da mesma cidade, e se essa cidade não fosse Brasília. Terra da Legião Urbana, da Plebe Rude e do Capital Inicial (veja texto abaixo).
Na nova safra brasiliense há espaço para tudo. Tem desde o hardcore forró de Os Raimundos e o som britânico do Low Dream até o rap do Câmbio Negro. As bandas chegaram no eixo Rio-São Paulo para fazer shows no circuito underground e acabaram interessando os selos e gravadoras.
É esse o caso de Os Raimundos, a banda"mais famosa" da atual safra brasiliense. Eles abriram para os Titãs na última turnê da banda, tocaram no M2000 e agora vão lançar seu primeiro disco, pelo selo Banguela. No estúdio da gravadora Be Bop, em São Paulo, em um intervalo da última sessão de finalização do disco, Rodolfo, 21, vocalista da banda, contou que a cena brasiliense está em uma fase fervilhante. "Às vezes tem opção de ver três shows só de bandas da cidade", diz.
Mas por que esse boom foi acontecer só agora, quase dez anos depois do início do sucesso da primeira safra de bandas da cidade? Fred, 21, baterista do grupo, tem uma explicação para isso. Ele acha que nessa época muitas bandas sugiram só pensando em fazer sucesso como a Legião, que vendeu cerca de 800 mil cópias já no segundo disco. "As bandas eram horríveis ", diz. Ele acha que agora as pessoas estão mais relaxadas e por isso surgem coisas originais.
Dado Villa Lobos, guitarrista da Legião, tem outra explicação. "Eu acho até possível que isso tenha acontecido, mas tendo a achar que as pessoas ficaram batalhando esse tempo todo para que agora as coisas possam acontecer", diz.
O certo, segundo a velha e a nova geração, é que Brasília nunca deixou de ser a cidade do rock. Giovanni, baterista do Low Dream, acha que isso acontece por causa do tédio. "Brasília é uma cidade onde só tem rock. Todo mundo toca. Se você não entrar em uma banda não tem mais o que fazer", diz.
Mas nem só de ensaios com a banda e idas a shows de rock vivem os roqueiros de Brasília. A cidade tem também muitos fanzines e estúdios que gravam as demos das bandas."Foi graças a alguns zines que começamos a receber cartas de todo o Brasil e a ser chamado para tocar no Rio e em São Paulo", diz Giovanni, que viajou para o Rio só para distribuir sua demo e acabou caindo nas graças do pessoal do selo Rock It!, que hoje em dia tem na mira a banda Câmbio Negro.
Tem gente de Brasília que já está de olho no mercado exterior. É esse o caso da banda Puz. Eles vão excursionar pela Bulgária em maio e ainda esse ano pensam em mudar para Amsterdã. "O tipo de som que a gente faz não tem espaço no Brasil", diz o vocalista Ronan, 25.

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