São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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Caixa sintetiza a fábrica de hits da Motown

CARLOS CALADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à onda de caixas que está tomando as lojas de discos, a Polygram acaba de importar da Europa um irresistível objeto de desejo para qualquer fã da música pop. "Hitsville USA - Motown 1959-1971" sintetiza em quatro CDs o período áureo da Motown, a mais influente gravadora voltada para o pop negro.
Stevie Wonder, Marvin Gaye, Smokey Robinson, Jr. Walker e os conjuntos vocais Jackson Five, The Supremes, Four Tops e The Temptations são apenas alguns dos 36 artistas que aparecem nas 104 gravações. Com a média de 75 minutos de música por CD, o consumidor sai ganhando: leva em quatro disquinhos o que normalmente seria editado em cinco. Um encarte de 68 páginas traz fotos e perfis dos artistas, incluindo fichas técnicas das gravações e suas colocações no "hit parade".
A ordem das faixas é cronológica. Lançada em agosto de 1959, "Money (That's What I Want)" (Dinheiro é o que eu quero), na voz de Barrett Strong, abre o primeiro CD com um toque irônico. É claro que os dirigentes da Motown pensavam em dólares. Porém, pelo menos no período coberto nessa antologia, souberam combinar muito bem a criação com a orientação comercial.
Fundada em 1959, em Detroit (cujo apelido Motortown, cidade dos motores, gerou a corruptela Motown), a pequena gravadora do ex-lojista Barry Gordy assimilou rapidamente a vocação comercial da poderosa indústria automobilística local. Virou, no melhor sentido, uma fábrica de hits.
Qualquer faixa da coleção serve para ilustrar e comprovar a grande sacada de Gordy. Desde o início, suas produções perseguiram uma fórmula sonora que logo se revelou imbatível no mercado: um rhythm & blues mais "clean", que pudesse atrair o público jovem branco sem perder sua identidade com a platéia negra.
O espectro musical da Motown era razoavelmente amplo. Das canções leves e dançantes do The Jackson Five ("ABC", "The Love You Save") às baladas com coloração gospel de Gladys Knight & The Pips ("I Don't Want to Do Wrong", "If I Were Your Woman"), houve espaço até para o enérgico "rock & soul' da banda branca Rare Earth ("Get Ready"), que muita gente ouviu, no início dos anos 70, crente de que era negra. Até seus integrantes relutaram, quando receberam o convite para gravar na Motown.
Além de hits imortais, como "I Heard It Through the Grapevine" (com Marvin Gaye), "(I Know) I'm Loosing You" (The Temptations), ou "Baby Love" (Diana Ross & The Supremes), não faltam preciosidades hoje quase esquecidas, como a emblemática "War", na interpretação raivosa de Edwin Starr, a vibrante "Fingertips", gravada ao vivo, em 1963, com o ainda adolescente Stevie Wonder, ou a pueril "Tears of a Clown", na voz delicada de Smokey Robinson.
Por outro lado, pode ser revelador desrespeitar a ordem das faixas e ouvir em sequência os sucessos de um mesmo artista. Lançada em novembro de 1966, "Standing in the Shadows of Love" (6º lugar na parada pop), com os Four Tops, decalca em vários aspectos (o "riff" de flauta, trechos dos vocais) a imbatível "Reach Out I'll Be There" (1º lugar no mesmo "hit parade"), lançada três meses antes com o mesmo grupo. Méritos à parte, de vez em quando a fábrica de hits também maquiava seus produtos.

Título: Hitsville USA - Motown 1959-1971
Formato: caixa com quatro CDs
Lançamento: Polygram
Preço: CR$ 50 mil (em média)

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