São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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EUA dão tempo para Rússia punir espiões

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, disse ontem que resolveu dar "algum tempo" para o governo de Rússia agir antes de tomar medidas de retaliação devido à alegada espionagem feita pelo alto funcionário da CIA (Agência Central de Inteligência) Aldrich Ames. Os Estados Unidos querem que o governo russo assuma responsabilidade pelas ações de Ames e puna os responsáveis.
A primeira reação de Moscou foi minimizar o incidente. Porta-vozes do Kremlin disseram ontem que é natural que a Rússia continue a espionar os Estados Unidos, porque os Estados Unidos continuam espionando a Rússia e esse tipo de atividade é comum, mesmo entre nações aliadas, há muito tempo.
Clinton não especificou quanto é "algum tempo". Mas, na Casa Branca, os comentários são de que ele pretende esperar mais um ou dois dias pelo anúncio de alguma reação concreta dos russos. "Se eles não agirem, nós vamos agir", disse a porta-voz da Casa Branca, Dee Dee Myers. Entre as possíveis medidas retaliatórias está a expulsão de diplomatas russos baseados nos EUA.
No Congresso dos Estados Unidos, começou ontem a pressão para que Clinton aja depressa. O presidente da Comissão de Inteligência do Senado, senador Dennis De Concini, sugeriu um congelamento por 60 dias da ajuda financeira norte-americana à Rússia. "Nós estamos dando a eles mais de dois bilhões de dólares. Não é querer demais pedir que eles parem de nos espionar", disse.
Mas Clinton indicou que não pretende mexer no auxílio à reforma econômica na Rússia. Disse que a maior parte desse dinheiro é destinado à iniciativa privada russa e que todas as evidências são de que o caso Ames não vai afetar a disposição do governo russo de liberalizar sua economia.
O secretário de Estado, Warren Christopher, prestou depoimento ao Senado sobre o episódio e disse que os americanos "não podem ter ilusões: a KGB (Comitê de Segurança do Estado, órgão de inteligência da ex-União Soviética) pode ter mudado de nome, mas não mudou de métodos".
Um funcionário aposentado da CIA disse ontem que pelo menos dois soviéticos que trabalhavam para os Estados Unidos foram mortos em consequência de informações passadas por Ames ao governo de Moscou. A CIA se recusou a comentar a acusação, feita por Vincent Cannistraro.
Ames e sua mulher, Maria del Rosario (de origem colombiana), voltam a se apresentar hoje a um juiz federal em Alexandria, Virginia (região metropolitana de Washington). Segundo informações não confirmadas, Maria Ames resolveu colaborar com a promotoria em troca de uma redução da sua pena, para ela poder cuidar do filho do casal.

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