São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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Chega de suspense

A perspectiva, até o fechamento desta edição, era de que o Fundo Social de Emergência seria aprovado na sua segunda votação no Congresso prevista para ontem à noite. Confirmado esse resultado, volta ao governo a iniciativa de dar sequência ao programa de estabilização econômica. Ao mesmo tempo, aumenta a premência de que a sociedade seja finalmente esclarecida sobre as muitas indefinições que cercam as próximas fases do plano.
A votação de fato havia colocado nas mãos do Congresso a responsabilidade de possibilitar aquilo que é considerado precondição básica para o combate à inflação no país: um mínimo de equilíbrio orçamentário. Os parlamentares, em que pese a demora e o vaivém das negociações políticas, pareciam ontem prestes a cumprir sua tarefa.
Se é condição necessária, porém, esse equilíbrio das contas públicas (mesmo que se confirme na execução do Orçamento, o que é no mínimo incerto) fica longe de ser suficiente para derrotar o dragão inflacionário. Tanto é assim que o plano inclui outras duas fases e há informações de que a próxima, a criação da URV como indexador, pode ser adotada já na semana que vem.
Como se afirmou desde o início que o plano não teria choques nem surpresas, não se justifica que às vésperas da sua implantação parcial questões básicas e de impacto direto para os cidadãos, como a política salarial ou a conversão dos preços, permaneçam ainda às escuras.
Deve-se lamentar também que o próprio Ministério da Fazenda venha contribuindo para tumultuar as expectativas com comentários cada vez menos elucidativos, quando não contraditórios. Por vezes tem-se até a inquietante impressão de que nem a própria equipe econômica sabe bem o que vai fazer.
É até desnecessário ressaltar que essa situação de insegurança, longe de ser apenas desagradável, dá causa a especulações e movimentos preventivos cujos efeitos são tão concretos quanto negativos. É como se, ao manter o suspense sobre o plano, o governo estivesse esquizofrenicamente trabalhando contra seus próprios interesses. Pior, contra os interesses da nação.

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