São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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Retratos do Brasil

A cada dia que passa os jornais trazem novas evidências do processo de falência do Estado e da deterioração do nível de vida dos brasileiros. Um exemplo desse fato pode ser obtido ao se examinar a precariedade da saúde da população.
É certo que o país conta com aquelas doenças ditas de Primeiro Mundo, como por exemplo o câncer e os males cardíacos. São enfermidades que incidem sobre todos os países, sobretudo os mais ricos, nos quais a população não morre antes devido a outras causas.
Porém, o que choca a todos são os números recentes sobre doenças típicas do Terceiro Mundo, tais como o cólera e a leptospirose, que quase desapareceram nos países ricos. Moléstias facilmente evitáveis com um bom sistema de saneamento básico que impeça, por exemplo, que o lixo fique exposto ou que aconteçam enchentes constantes.
E os números são significativos. Somente na Região Metropolitana de São Paulo, 52 casos de leptospirose já ocorreram este ano. Embora a prefeitura afirme ainda não se tratar de uma epidemia, é certo que é uma quantidade significativa.
Ainda mais alarmante é a evolução do cólera. Fortaleza, cidade que registrou em janeiro cerca de 300 casos diários, já soma 9.398 novos doentes em 94. Em vários Estados do país os números acerca do cólera só continuam a subir.
Por outro lado, a escalada da violência urbana é mais um sinal de que o atual modelo estatal não está sendo capaz de resolver os problemas básicos da população. O episódio do morro da Mangueira é um exemplo de um lugar relativamente tranquilo e que parece ter-se tornado altamente perigoso, fenômeno aliás observado em várias cidades.
Tanto a precariedade da saúde como os terríveis índices de violência são evidências da necessidade de diminuir o tamanho do Estado. Em vez de gastar dinheiro com estatais ou com funcionários ociosos, por exemplo, a atuação estatal deveria restringir-se às áreas clássicas, como saúde e segurança. E quanto antes, melhor. Afinal, nem os bandidos, nem os bastonetes do cólera e as espiroquetas da leptospirose parecem dispostos a esperar.

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