São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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Emprego e inflação

TASSO JEREISSATI

O programa de preparação do homem para o trabalho, lançado ontem pelos ministros Israel Vargas e Walter Barelli, com o estímulo do sociólogo Hebert de Souza, o Betinho, é fundamental para o país. É o passo seguinte do programa de mobilização nacional contra a fome, que deixa de ser puramente assistencialista e evolui para o objetivo maior de geração de empregos.
Idealizado pelo deputado Ariosto Holanda, o programa visa dar um ofício, um treinamento mínimo, a todos os brasileiros alijados do mercado de trabalho. Com suas próprias mãos, e alguma qualificação para o trabalho, essa massa de brasileiros ganha condições de deixar a situação de miséria integrando-se à sociedade e à cidadania.
Esse programa, executado em proporções reduzidas, já demonstrou êxitos incontestáveis. Trata-se de uma atividade fundamental e típica de governo que vem se aliar a outro grande projeto do governo, também em implementação, que é o de estabilizar a economia, baixar a inflação, para que o país tenha as condições necessárias para a retomada de um crescimento econômico de forma consistente.
É importante observar que são duas iniciativas diferentes com objetivo comum de longo prazo: retomar o nível de crescimento econômico e melhorar a qualidade de vida das faixas mais pobres da população brasileira.
Não se pode esquecer que os próximos 30 dias serão delicadíssimos. É o período em que o Ministério da Fazenda pretende dar o segundo passo de seu plano de estabilização com a implantação da Unidade Real de Valor –a URV–, quando todos os contratos, preços e salários serão a ela convertidos.
Nessa fase, o governo nos próximos dias vai enviar ao Congresso medida provisória estabelecendo regras claras para a conversão dos contratos em URV. Não se pode especular de maneira interesseira se essas regras devem arrochar ou trazer ganhos reais aos salários.
O conjunto de medidas não tem a pretensão de ser uma política salarial definitiva, com arrocho ou ganho real. O que se deve esperar no bojo dessas medidas é a proteção do poder aquisitivo de quem tem emprego, através da fixação de parâmetros mínimos de conversão.
A discussão de uma política salarial é sempre oportuna e legítima, sobretudo num país como o Brasil, e deve acontecer. No entanto, essa medida provisória tem o objetivo único e muito bem definido que é o de baixar a inflação. Só com a inflação em níveis minimamente razoáveis é que se terá a certeza de que os salários não serão meramente nominais e que os ganhos aparentemente reais serão sempre superados numa corrida pela corrosão inflacionária.
Nunca é demais repetir que o capital e o capitalista são imunes à inflação pela vacina da correção monetária. É o assalariado a única grande vítima da inflação.
É através do programa de capacitação do homem para o trabalho que se criarão as bases para a geração de empregos para os que estão marginalizados do mercado e, consequentemente, condições de formulação de uma política salarial justa e com ganhos reais para a massa de trabalhadores brasileiros.

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