São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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Para onde vai Fernando Henrique?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Ao comentar ontem com esta coluna detalhes sobre o plano de combate à inflação, o ministro Fernando Henrique Cardoso deixou escapar nas entrelinhas como vê seu próprio futuro –ou pelo menos como gostaria que vissem. Deu a entender que sua candidatura à Presidência nem chegou a entrar no mar e está naufragando. "Estou cada vez mais amarrado ao plano", comentou.
Ele imagina que ainda faltam sérios obstáculos a serem enfrentados. Há uma passagem decisiva, quando a URV se transforma em moeda –uma virada que só aconteceria, segundo seus cálculos, no mínimo em três meses. Muito além do prazo fatal para deixar o cargo e disputar a eleição.
Existiria alguém para se colocar no seu lugar, capaz de ter o respeito dos formadores de opinião, parlamentares, empresários, trabalhadores e, ainda por cima, à distância o presidente Itamar Franco? Na conversa ontem, o ministro demonstrou a sensação de que cometeria um ato de irresponsabilidade caso abandonasse no meio sua tarefa, lavando as mãos –justamente pela dificuldade, neste exato momento, de substituí-lo.
Mas não faltam pessoas bem-informadas que o vejam como candidato; suas negativas hoje seriam apenas uma jogada estratégica. Uma jogada, em tese, compreensível.
Amplos segmentos da opinião pública estão à procura de uma alternativa a Lula –e, ao mesmo tempo, o nome mais viável do PMDB, Antônio Britto, tem cada vez mais seu espaço limitado à disputa pelo governo do Rio Grande do Sul. Caso Quércia seja escolhido candidato, nada mais previsível que expressivas lideranças do PMDB façam campanha por um nome do PSDB.
Não sem motivo, Lula teme disputar num segundo turno com Fernando Henrique, capaz de reunir apoios da esquerda à direita.
PS – Se o ministro sacrificar mesmo seu futuro eleitoral em nome do interesse público, não vai ganhar a Presidência nem voltar ao Senado. Será, entretanto, o político brasileiro mais respeitável, lembrado quando se comentarem exemplos de desprendimento. No Brasil, é mais difícil encontrar estadistas do que ex-presidentes.

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