São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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Fujimori de plantão

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Li nos jornais de ontem que são muitos a suspeitar das trapalhadas da equipe econômica que há mais de dois meses ainda não sabe o que está fazendo. Foi lembrada a primeira reunião da turma de Collor, quando dona Zélia e seus rapazes deram o vexame de ignorar o que estavam anunciando. Pelo menos, ela podia ter a desculpa do sigilo –apesar de não ter faltado "inside information" na praça.
A confusão agora é maior. Podemos ter a certeza de que ao caos econômico, à barafunda administrativa e à injustiça social soma-se a precariedade jurídica da nova medida. Qualquer meirinho sabe que a URV, à medida que reduzirá os salários pela média, choca-se frontalmente com a Constituição em dois artigos explícitos: o 6º e o 37º. Sem falar nos acordos e contratos trabalhistas já julgados pelos tribunais competentes.
A fragilidade do novo plano repete todas as besteiras dos planos anteriores com a agravante da empáfia acadêmica dos membros da atual equipe.
A última do ministro da Fazenda: plantou nos colunistas mais chegados a versão que explicaria a sua "fuga" em dias da semana passada. Ele teria participado de uma reunião com militares graduados, da qual saiu investido chefe do governo de fato, com a missão suplementar de controlar o restante da boiada "a rédeas curtas". Tudo por causa da nudez de uma vedete e do porre de um ministro no Carnaval –fatos desculpáveis pelo clima, local e "timing" da própria festa.
A missão de "benefactor" atribuída a FHC pelos militares, numa reunião esotérica, na calada da noite, seria o preâmbulo da fujimorização do regime. Repito: tudo leva a crer que foi o próprio ministro ou os seus amigos mais interessados que plantaram a nota naqueles espaços da mídia reservados aos "potins" e fofocas.
Se o problema é impedir a qualquer custo a eleição de Lula, é preferível que um general assuma claramente o comando da nação. Pior é indicar um preposto civil habilitado pela vaidade a cometer todos os erros.

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