São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 1994 |
 |
|
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Figueiredo diz que Tancredo defendeu eleições indiretas Ex-presidente afirma temer "pororoca social" no país FERNANDO MOLICA
Ao discursar no Sindicato das Empresas Transportadoras de Carga, no Rio, Figueiredo admitiu ter conspirado, no segundo semestre de 1963, para derrubar o governo de João Goulart (1961-1964). Voltou a falar no risco de uma "pororoca social" e fez críticas ao plano econômico do governo. No almoço foi lançada a candidatura do general da reserva Newton Cruz (ex-chefe do extinto Serviço Nacional de Informações) ao governo do Rio. O discurso foi gravado pela emissora de rádio CBN. Procurado ontem pela Folha, Figueiredo se recusou a comentar o que dissera na véspera. A seguir, os principais trechos.Jango "Esta história de dizer que a revolução de 64 foi contra a corrupção e a subversão é um pouco de exagero. A revolução foi mais contra a atitude do presidente, que estava subvertendo a hierarquia e a disciplina nas Forças Armadas. O dr. João Goulart mandou me chamar e (em abril de 63) fui ao edifício Chopin conversar com ele. Disse que o governo ia mal, que ele estava invertendo a hierarquia, que estava agredindo, que estava fomentando a indisciplina, que as Forças Armadas não estavam satisfeitas com o agrado com que ele tratava os comunistas. A ponto de ter um general (Assis Brasil), tido como comunista, chefe do Gabinete Militar e um chefe do Gabinete Civil sabidamente comunista (Darcy Ribeiro, hoje senador pelo PDT-RJ). Afirmei que não estava conspirando. Ele disse: 'Dentro de um mês vou fazer um pronunciamento rompendo com a CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), exonerando o general Assis Brasil e o dr. Darcy Ribeiro'."Conspiração "Esperei um mês, dois meses, e nada. Quando chegou em agosto ele (Goulart) mandou me chamar. E eu disse que não iria, ele não cumprira a promessa. Em setembro ele mandou me chamar novamente. Disse (para o emissário do presidente) que (eu) já estava conspirando contra ele (Goulart) e que, infelizmente, ele já estava no chão."Movimento militar de 64 "Entrei na revolução certo de que os militares iam tomar conta do governo e, como das vezes anteriores, tão logo passasse a crise, passariam para o poder civil. Infelizmente, outros, que não tiveram atuação nenhuma ou quase nenhuma na revolução, tomaram conta da revolução dos coronéis. E, no fim de um ano, verifiquei que a revolução já estava errada."Tancredo "Ao mesmo tempo que o dr. Tancredo dizia que as eleições deviam ser diretas, corria para minha casa e dizia "não deixe ter eleições diretas, as eleições têm que ser indiretas senão eu não serei presidente. Se houver eleições diretas, o Brizola será o presidente'."Plano Cruzado "Inventaram um tal de plano Cruzado. No dia seguinte o governador Brizola foi me visitar, pela primeira vez. E eu disse a ele, "nunca vi terminar inflação por decreto'."Plano FHC "Temo que este plano seja um capítulo da série de planos que tivemos e que não deram em nada. Pode ser que esta inflação venha a diminuir com medidas fortes que o governo tome, mas (pode ser) que o trabalhador, o funcionalismo público e o assalariado venham a sofrer com o arrocho salarial que eles tanto acusaram a revolução. O que é esta URV? Unidade de Referência de quê? De Voracidade? Vamos ter que ser prejudicados, mesmo porque o combate à inflação tem que ser amargo"Pororoca social "Tenho medo daquilo que falei há três anos, da pororoca social. Quando o povo tem fome não há força armada que resista. A força armada sai na frente para ajudar o povo."Risco de novo golpe "Se amanhã eu fosse tenente-coronel e se se repetisse a mesma situação, teria feito a mesma coisa que disse para o Jango, de quem me tornei amigo. Mas disse para ele, o sr. já está no chão, não tem jeito." Texto Anterior: Um sinal significativo Próximo Texto: Ministra não consegue explicar o bilhete do seu marido ao DNER Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |