São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA desistem de impor sanções ao Brasil

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O responsável pelo comércio exterior dos EUA, Mickey Kantor, anunciou hoje que seu governo resolveu colocar fim às investigações que fazia sobre a proteção ao direito de propriedade intelectual no Brasil e não impor sanções comerciais contra o país. "Aplaudo o governo brasileiro pelo seu contínuo progresso", disse Kantor.
A decisão de Kantor, que responde diretamente ao presidente Bill Clinton, está sendo interpretada por diplomatas brasileiros como o desejo do atual governo dos EUA de fazer um gesto de boa vontade em relação ao Brasil. A atitude de Kantor no caso difere da que tomou em relação a outros países, como o Japão, em episódios semelhantes recentes.
O embaixador do Brasil em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, em declaração exclusiva à Folha, disse que o anúncio de Kantor "reforça a convicção de que a Rodada Uruguai é uma importante conquista para todos que acreditam no comércio baseado em princípios sadios de livre competição".
Rodada Uruguai é o nome dado ao acordo mundial de comércio a que se chegou em Genebra em 93 após sete anos de negociações. Brasil e EUA vão estar entre os seus signatários em abril próximo. O governo brasileiro insistiu com o EUA para que suas diferenças sobre a questão da propriedade intelectual fossem resolvidas com base no acordo de Genebra.
A decisão de Kantor é importante vitória da diplomacia brasileira. O embaixador Flecha de Lima mobilizou apoio ao Brasil de diversas empresas norte-americanas com interesses no país.
Pressão sobre a Casa Branca também foi exercida pelo governo do Estado de West Virginia e pelos senadores desse Estado, que deseja ampliar sua exportação de carvão para o Brasil.
As Camaras de Comércio Brasil-EUA do Rio e de São Paulo, no entanto, se dividiram e não apoiaram o governo brasileiro, o que provocou irritação no Itamaraty e no Palácio do Planalto.
O governo Clinton vem agindo de forma muito dura com todos os seus parceiros em casos de disputas comerciais, como foi demonstrado no caso com o Japão. Há dez dias, as perspectivas eram de que tratamento semelhante seria dispensado ao Brasil.
O ministro interino das Relações Exteriores, Roberto Abdenur, comemorou ontem o acordo e o fim das ameaças de sanções comerciais em consequência da demora na aprovação pelo Congresso da Lei de Patentes. Segundo Abdenur, as negociações foram concluídas com êxito e os interesses brasileiros foram preservados.
Segundo o ministro, foram dez meses de entendimento, com cinco rodadas de negociação. "O final reflete o reconhecimento dos progressos do Brasil no campo da propriedade intelectual", afirmou.
Pelo acordo, o Brasil compromete-se a aprovar a Lei de Patentes até junho. O governo enviará para o Congresso emendas que modificarão o texto aprovado na Câmara em pontos que desagradavam os americanos. A principal mudança é o fim da chamada "importação paralela".
Pelo projeto da Câmara, a importação de produtos poderia ser feita por qualquer empresa para qualquer fornecedor no exterior, desde que esse fornecedor tivesse a propriedade da patente. O governo proporá uma emenda suprimindo esse artigo, garantindo que a importação seja feita apenas pelos fornecedores tradicionais.

Colaborou a Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Governo tem tabela de preços desde 86
Próximo Texto: BC é obrigado a pagar dívida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.