São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 1994
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Milan e Resende expõem esculturas na Poli

CARLOS UCHÔA FAGUNDES JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Erramos: 26/02/94
Diferentemente do que afirma a legenda da foto que ilustra o artigo, a artista Denise Milan está ao lado de uma parte de sua escultura numa fundição em Itu e não nos jardins da escola.
A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, uma das mais tradicionais escolas de engenharia do país, completa este ano seu centenário de fundação. As comemorações incluem o projeto "Esculturas no Campus", que será iniciado com obras monumentais dos escultores José Resende e Denise Milan, instaladas nos jardins dos prédios de Engenharia Elétrica e Civil na Cidade Universitária.
A iniciativa faz parte de uma série de medidas que nos últimos anos vêm buscando fazer a ponte entre a produção universitária e a sociedade –que incluem, na área tecnológica, o utilíssimo Disque-Tecnologia do IPT, já usado por muitos artistas. O desafio dos escultores convidados era justamente utilizar modernas tecnologias em seus trabalhos.
Denise Milan, conhecida por suas intervenções com cristais na Bienal de São Paulo e na Estação Clínicas do Metrô, muitas vezes precisou de socorro técnico para instalar suas obras, especialmente "Drusa", no Anhangabaú. Agora, para fazer sua praça-escultura que lembra a deusa Palas-Athena, teve de recorrer a cálculos de engenharia que garantiram a sustentação e preservação da obra.
A idéia da deusa grega e seu templo, o Parthenon, surgiu pelas implicações culturais que suscitam, ligando-se à origem das ciências e das artes ocidentais. Além disso, Athena é o modelo grego da Minerva romana, símbolo da Poli. A obra de Milan, com 14m de comprimento, 6,5m de largura e 6,5m de altura, reproduz em granito a planta do Parthenon, reduzida em cinco vezes do tamanho original, encimada por uma peça enorme de aço –que seria o capacete da deusa.
Esta escultura-praça também conta com um púlpito que servirá de tribuna livre. "À idéia é que as pessoas possam subir e falar recuperando um pouco o teatro grego, a própria idéia de polis", diz a artista. E completa: "No Parthenon a deusa, feita por Fídias, era toda de ouro, marfim e pedras preciosas. 150 anos depois ela desaparece, vítima de sua própria riqueza".
Por isso, da deusa apareceria só o capacete, a grande estrutura de aço que dá dinâmica à obra e conquista seu movimento seja pelo giro do sol em torno dela, formando um relógio de sol, seja pelos buracos circulares que a vazam, deixando-a penetrar pelo céu. A força plástica da obra está na torção espacial criada por este arco de metal tensionado sobre a superfície de pedra. Esta define uma topologia virtual cuja correspondência propõe novos convívios.
O artista plástico José Resende, um dos nomes mais sólidos da escultura brasileira, habituado a explorar as possibilidades físicas de cada material, sentiu-se estimulado com o convite feito pela Politécnica. "Acho um possível trabalho em conjunto muito positivo e espero que este início que acaba de ser dado nos festejos do centenário seja profícuo", diz.
Embora não tenha tido tempo hábil para desenvolver seu projeto na universidade, precisou de cálculos de engenharia para realizar sua obra. Ela lida com duas chapas de aço de 15m de comprimento e três metros de largura, fincadas no chão por uma das pontas e içadas por cabos de aço, fixos num ponto, que as fazem descrever uma curva no ar. O trabalho intervém de modo preciso e cortante no espaço disperso do jardim, polarizando tensões em torno de si pela valorização de seus vazios.

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