São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 1994
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Medidas não reduzem a expansão monetária

ERNANE GALVÊAS

A meu ver, a inflação brasileira, na conjuntura atual, está intimamente associada à expansão monetária. Em 1992 e 1993, o agregado M4 cresceu 1.820% e 2.800%, enquanto a inflação situou-se em 1.157% e 2.708%, respectivamente. Não resta dúvida que existe uma estreita correlação entre expansão monetária e alta de preços.
A partir dessa premissa básica, a questão que se coloca é saber se a criação do Fundo Social de Emergência e da URV contribuem ou não para reduzir a expansão monetária. A resposta é não.
As estatísticas do Banco Central revelam, claramente, que o crescimento dos agregados monetários teve origem em duas fontes principais, em 1992: a liberação dos cruzados novos que haviam sido congelados pelo Plano Collor e a acumulação de US$ 14 bilhões nas reservas cambiais. Em 1993, de longe, a responsabilidade pelo aumento da quantidade de moeda deveu-se à continuada acumulação de reservas. Nesses dois anos, a participação do Tesouro Nacional no processo de expansão monetária é negligível.
Se a inflação começa, realmente, com a expansão monetária, é certo, igualmente, que ela se multiplica através dos mecanismos de indexação, inclusive da correção monetária dos saldos bancários. O sistema generalizado de indexação cria um círculo vicioso da inflação, seja pelo processo de realimentação das altas de preços, da taxa de câmbio, dos impostos e dos salários, seja, como vimos, pela multiplicação dos meios de pagamento.
Assim, existindo uma inflação de fundo psicológico, de natureza inercial, o seu controle requer, também, uma medida para quebrar o mecanismo de realimentação.
O Fundo Social de Emergência constitui, apenas, uma flexibilização da administração orçamentária, mas o importante, mesmo, é o equilíbrio do Orçamento; o fundo, em si, não terá maior influência sobre os agregados monetários.
Por outro lado, a URV, sendo apenas um novo indexador de preços críticos, também não terá maior influência e, portanto, se outras providências não forem tomadas, dificilmente o curso atual da inflação será interrompido. Aliás, é bom esclarecer que denominar os preços e salários em URV significa reajustá-los diariamente, em vez de fazê-lo a cada 15 ou 30 dias, como atualmente. Isso tende a acelerar a inflação.
Entretanto, pode-se imaginar que o FSE e a URV são medidas preparatórias para um programa mais arrojado, que adote, por exemplo, uma âncora cambial, no estilo argentino ou mexicano, ou seja um congelamento ou semicongelamento da taxa de câmbio e, a partir daí, se quebre a inércia dos mecanismos de indexação. Por aí, pode-se controlar a inflação. É um risco calculado, um salto no escuro, mas pode dar certo.

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