São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Fleury aceita o confronto com Quércia

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, aceita o desafio de enfrentar Orestes Quércia na convenção do PMDB que escolherá o candidato do partido a presidente da República. Mas impõe algumas condições. Quer que os articuladores de sua candidatura criem em torno dele um movimento suficiente para enfrentar Quércia em situação de igualdade. Quer ainda evitar riscos de uma aventura eleitoral e ser usado como instrumento antiquercista.
Na semana passada, em Brasília, o governador se convenceu de que pode mesmo se candidatar a presidente. Em pouco mais de 24 horas, entre a noite da quarta-feira e a noite do dia seguinte, recebeu apoio de nomes de peso do partido. Fleury evitou deixar Brasília como candidato. "Segura isso. Agora, não", disse, quando um grupo de deputados do PMDB se preparava para lançar seu nome.
A reunião com os deputados, no início da noite da quinta-feira, foi o momento mais importante de sua passagem por Brasília. Dos 99 deputados do PMDB, 48 estavam presentes. Na avaliação de seus articuladores, o apoio da bancada peemedebista na Câmara poderá chegar a 70 parlamentares. No Senado, segundo a mesma análise, a adesão fica em torno de 25 dos 27 senadores do PMDB. Esta semana, Fleury tem agendado um jantar com esses senadores.
Se resolver mesmo se candidatar, poderá surpreender seu antecessor no governo paulista. Na última sexta-feira, auxiliares do governador já começavam a elaborar o mapa de adesão nos Estados. Segundo essas contas, o governador já conta com o apoio da maioria dos peemedebistas de dez Estados. Em alguns deles, como o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, dois dos maiores colégios eleitorais do país, a previsão é de que a adesão será quase unânime. Também é contabilizada como pró-Fleury a maioria dos convencionais do Rio e Bahia.
No mapa dos fleuryzistas, constam ainda o apoio dos peemedebistas de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Alagoas, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Os outros Estados são vistos como quercistas ou indefinidos. No primeiro caso, está São Paulo. O quercismo é amplamente favorito no Estado que tem o maior número de convencionais do partido. Dos 625 municípios, o PMDB tem 362 prefeitos –com raras exceções, a grande maioria deles é fiel a Quércia.
Na bancada do PMDB da Assembléia Legislativa de São Paulo, o quercismo também domina –conta com 20 dos 26 deputados. Mas há equilíbrio entre os 14 deputados federais –cada um conta com o apoio de sete parlamentares. O PMDB quercista também demonstra fôlego no Pará, Mato Grosso, Paraíba, Goiás e Ceará. No Paraná, o PMDB é do governador Roberto Requião, que também sonha com a sucessão presidencial.
Mas os articuladores da candidatura Fleury apontam para outros dados favoráveis ao governador paulista. Segundo eles, a maioria dos candidatos a governador pelo PMDB, com chances de vitória, está com Fleury. É o caso de Antônio Britto (RS), Tarcísio Delgado (MG), Divaldo Suruagy (AL), Garibaldi Filho (RN), Wilson Campos (MS) e Gerson Camata (ES). Na lista são ainda incluídos nomes mais fracos como o do ex-governador Moreira Franco (RJ) e o candidato a ser indicado pelo PMDB de Santa Catarina. Moreira Franco, que afirma preferir a candidatura de Britto à Presidência, se encontrou ontem com Quércia no Rio. O ex-governador carioca disse que telefonará amanhã a Fleury para perguntar se ele pretende ou não se candidatar à Presidência.
Líderes
Outro dado favorável a Fleury é o apoio de todos os principais líderes nacionais do partido. O presidente do PMDB, Luiz Henrique, os líderes do governo no Senado e na Câmara, Pedro Simon e Luiz Carlos Santos, e o líder da bancada na Câmara, Tarcísio Delgado, são antiquercistas. Simon já se manifestou favorável a Fleury e Santos é o mais entusiasmado articulador da candidatura do governador.
Fleury sabe que as adesões a ele devem-se mais à resistência antiquercista do que fruto de seu próprio prestígio eleitoral. Por isso, o governador já avisou que não integrará nenhum núcleo anti-Quércia. Quer que o apoio a ele sirva de alternativa para que o PMDB não saia dividido para a sucessão. Fleury também tem discordado da forma como vêm sendo feitas algumas manifestações de apoio.
"Fleury é mais palatável que Quércia", disse Simon. O governador quer que o apoio a ele tenha conteúdo político, sem referência a problemas enfrentados por seu antecessor. Fiel a Quércia, o governador do Pará, Jáder Barbalho, desconfia das manifestações pró-Fleury. "É corda que os adversários estão dando para rachar o PMDB de São Paulo", diz. "Por trás dessa articulação dos gaúchos, está a candidatura do PSDB".
A falta de adesão dos governadores é outro problema para Quércia. Com exceção de Barbalho, nenhum outro dos seis governadores do PMDB manifestou apoio a ele. Íris Rezende, de Goiás, que era aliado quercista, mantém a esperança de concorrer a presidente. Os fleuryzistas trabalham com a possibilidade de convidá-lo para integrar a chapa de Fleury. Gilberto Mestrinho, do Amazonas, também tem mantido silêncio. Ronaldo Cunha Lima, da Paraíba, tem evitado se manifestar. Tanto Mestrinho como Cunha Lima integravam a lista dos aliados de Quércia. Moisés Avelino, de Tocantins, não nutre nenhuma simpatia por Quércia, e Roberto Requião, do Paraná, é inimigo declarado do quercismo. Os fleuryzistas esperam obter apoio de parte desses governadores.

Colaborou a Sucursal do Rio

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