São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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'Anjos malvados' assombram pais

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

"Se eu soltar, você acha que pode voar?", pergunta Henry (Macaulin Culkin), em uma das primeiras e mais chocantes cenas de "O Anjo Malvado", em cartaz em São Paulo. A questão é dirigida a seu primo Mark (Elijah Wood), que está pendurado a uma altura de mais de 10 metros, e é seguro exclusivamente pela mão de Henry.
Na última quinta-feira, ocorreu uma tragédia que, de alguma forma, lembrou a cena do filme. Por razões desconhecidas, um menino de dois anos e cinco meses atirou um bebê de sete dias pela janela de um prédio em Itaquera, na zona leste de São Paulo.
Macaulin Culkin não solta a mão de Mark, mas faz coisas piores. Descobre-se, ao longo do filme, que afogou seu irmãozinho na banheira. Além disso, também mata um cachorro, causa um acidente com 10 carros, tenta matar a irmã e a própria mãe. É um psicopata, aos 10 anos de idade.
"Há uma tendência a idealizar a criança como anjinho. Toda criança tem um pouquinho de 'O Médico e o Monstro'. Existe violência e agressividade nelas. Só que é mais fácil admitir que isso só exista no adulto", diz o psicanalista Nélio Sacramento, 51, que trabalha com crianças e adolescentes.
A realidade não produziu nada parecido com o personagem de "O Anjo Malvado", mas alguns casos recentes assombraram a opinião pública. Em novembro do ano passado, dois meninos de 11 anos foram condenados à prisão perpétua, na Inglaterra, pelo assassinato de uma criança de dois anos. O caso ocorreu quando os meninos tinham 10 anos, idade do personagem de Macaulin Culkin, e chocou de tal forma a sociedade britânica que "O Anjo Malvado" chegou a ser censurado no país.
Em dezembro de 93, um menino de 11 anos matou com um tiro a faxineira que trabalhava em sua casa, em São José do Rio Preto (451 km a noroeste de SP). O menino está hoje sob acompanhamento psicológico.

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