São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Rio troca drogas por armas russas, diz PF

SÉRGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Cocaína e maconha brasileiras por fuzis, metralhadoras, bombas e munição russas. A troca estaria sendo negociada entre traficantes cariocas e guerrilheiros africanos que, desde os anos 70, recebem armamentos fabricados na ex-URSS. A relação entre o tráfico local e a guerrilha da África começou a ser investigada esta semana pela PF (Polícia Federal) no Rio.
O superintendente da PF no Estado do Rio, Edson Antônio de Oliveira, 42, disse à Folha que a suspeita sobre o escambo drogas/armas surgiu com a apreensão em favelas cariocas de munição produzida nos países que formavam a URSS.
A ocupação do morro da Mangueira (Mangueira, zona norte do Rio) pelas polícias Civil e Militar, no início da semana, resultou na interrupção da "guerra" de quadrilhas que já causara 14 mortes e na apreensão de cápsulas do fuzil russo AK-47/Kalashnikov, capaz de disparar até 800 tiros por minuto.
Oliveira disse que as armas estrangeiras obtidas pelos traficantes cariocas costumam vir de Miami (EUA) e do Paraguai. "O armamento russo não entra por estas duas rotas. Nem em Miami nem no Paraguai existe este tipo de arma e munição", afirmou o superintendente.
"A arma soviética é mais barata porque existe em grande quantidade nos países em conflito da África, no Líbano. Nossa preocupação é grande. A partir do momento em que estes conflitos diminuem, as armas vão sobrando e sendo negociadas", disse Oliveira.
O contato entre as organizações criminosas do Rio e os guerrilheiros de países como Angola, Namíbia e Zaire pode estar sendo realizado através de africanos que entram no Brasil como turistas.
Desde a década de 80 o Rio representa uma espécie de supermercado para a população de países pobres da África. Por ano, milhares de angolanos, nigerianos, zairenses e ganenses vêm ao Rio, na condição de turistas, e voltam carregados de mercadorias variadas (de sandálias a eletrodomésticos).
A PF investiga se entre estes visitantes estão representantes de entidades guerrilheiras, incumbidos de manter contatos com organizações criminosas cariocas, como o CV (Comando Vermelho) e o TC (Terceiro Comando).

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