São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Psicanalistas não condenam

DA REPORTAGEM LOCAL

Os psicanalistas ouvidos pela Folha não ficaram escandalizados ou se opuseram radicalmente ao "Overcoming Depression", o programa de computador de ajuda para deprimidos. "Parto de um princípio completamente diferente daqueles que embasam esse programa. Acho que uma das coisas que mais atrapalha na vida de uma pessoa é não conseguir dar nomes às coisas", diz o psicanalista Renato Mezan, professor da PUC. "Mas se o programa é sério não tenho posição a priori contra."
Maria Cecília Pereira da Silva, psicanalista há 12 anos, diz que "o programa pode dar alguma orientação, pode nortear alguém que ache que esteja deprimido, mas não é possível indicá-lo a sério para ninguém".
A psicanalista testou a "lição" número sete do programa -"Suicídio e Medicação Antidepressiva" (o programa não recomenda nenhum remédio). Maria Cecília se colocou na posição de um paciente seu, que tem problemas graves de depressão. "O programa mais pergunta que responde, mas acaba recomendando à pessoa que procure um médico."
Segundo a psicanalista, o principal problema do programa é ser baseado na terapia cognitiva. As "aulas introdutórias" do programa mencionam o cognitivismo, apesar de também parecerem, por vezes, trechos de palestras do best-seller dos manuais de auto-ajuda, Lair Ribeiro. "Você pode reprogramar o modo como você pensa a respeito de você mesmo. Sua capacidade cognitiva permite que você pode reelabore e revise sua imagem e ideais", diz a aula.
Maria Cecília afirma que o cognitivista "Overcoming Depression" trabalha só com comportamentos externos, como se a consciência desses comportamentos fosse suficiente para mudá-los e resolver os problemas. "A psicanálise busca um vínculo emocional para descobrir o que está por trás desses comportamentos, com o inconsciente, que os determina."(VTF)

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