São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Eleições criam vagas para pesquisadores

JOSÉ VICENTE BERNARDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudantes, desempregados ou donas-de-casa podem aproveitar o ano eleitoral para reforçar o orçamento ou mesmo iniciar uma nova carreira. Institutos de pesquisa estão se preparando para medir a popularidade dos candidatos e, para isso, pretendem recrutar centenas de pesquisadores. Só o Datafolha, segundo o diretor de operações Gustavo Venturi, 35, pretende mobilizar cerca de mil pesquisadores em todo o Brasil. Dedicação integral –oito horas por dia, cinco dias por semana– pode significar ganho mensal de até seis salários mínimos (CR$ 257 mil em fevereiro).
Os requisitos para iniciar a carreira de pesquisador ou entrevistador –que pode evoluir para verificador, supervisor de equipe, chefe de campo, analista e gerente– variam conforme a empresa. A Toledo e Associados Pesquisa de Mercado e Opinião Pública e o Datafolha preferem formados ou estudantes de nível superior. O Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) e o Vox Populi, de Belo Horizonte, exigem 2º grau completo. O Instituto Paulista de Pesquisas de Mercado não faz exigências quanto ao nível de escolaridade, mas procura selecionar candidatos "honestos, obedientes e descontraídos" (veja previsão de vagas, requisitos e remuneração no quadro ao lado).
A maior parte dos entrevistadores trabalha inicialmente como free-lancer e com contrato de trabalho por tempo determinado. No Ibope, os selecionados para o trabalho eleitoral terão contrato temporário de três meses. Os que apresentarem melhor desempenho poderão ser contratados definitivamente. A flexibilidade de exigências e de horários e a facilidade de se romper o vínculo com os institutos atraem principalmente estudantes, desempregados em busca de recolocação em outras áreas e pessoas com parte de seu tempo livre.
As pesquisas eleitorais são feitas, geralmente, de porta em porta ou em pontos de grande movimento nas ruas. Por isso, as empresas avaliam a capacidade de comunicação e a sensibilidade do pesquisador, que deve saber adequar as formas de abordagem ao perfil do entrevistado. "Há uma forma de fazer as perguntas para pessoas de classe A –que não gostam muito de falar– e outra para pessoas de classes mais baixas", diz Francisco José de Toledo, 52, diretor da Toledo e Associados. Faz parte do requisito "sensibilidade" do pesquisador uma seleção equilibrada de entrevistados.
"Isso é um dom", define Antonio Leal de Santa Inez, 66, diretor do Instituto Paulista de Pesquisas de Mercado (IPPM), referindo-se ao "jogo de cintura" necessário ao entrevistador. A falta desse "dom", segundo as empresas, é um dos principais motivos da alta rotatividade no setor.
Os mais "chatos", segundo definição de Toledo, podem ser promovidos a verificador ou supervisor, cuja função é checar o trabalho de outros entrevistadores para ver se não houve fraude (falsificação de dados). No Datafolha, segundo Venturi, o checador também acompanha a equipe de campo, zelando pela qualidade da coleta. A remuneração, nesse caso, é de 15% a 25% maior. Outra forma de aumentar o faturamento é ser escalado para trabalhar em outras cidades, quando o entrevistador recebe diárias e ajuda de custo.
Em aproximadamente dez anos de profissão, um pesquisador pode chegar a gerente de operações de campo ou analista –esse tempo tende a ser maior no caso de pesquisas eleitorais. Os salários dos analistas variam de CR$ 500 mil a CR$ 800 mil. Um analista elabora, testa e altera os questionários e a metodologia das pesquisas. "Pessoas formadas em comunicações, psicologia ou sociologia se identificam mais com essa carreira", avalia Francisco Toledo. Estatísticos também têm nas pesquisas um atraente campo de atuação.

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