São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Força superior entra em campo no clássico

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Esse é o sal do futebol: a rivalidade que se sobrepõe até mesmo à competição em si. E que tem o poder mágico de curar os inválidos e harmonizar os inconciliáveis.
Na quinta-feira à noite, Edmundo e Rincón estavam fora do clássico de hoje, enquanto Muller praticamente havia acertado com o Valencia, depois de um longo período de negociações com o São Paulo para a renovação de seu contrato.
Pois bem, na sexta-feira, Edmundo já estava escalado e Rincón experimentava tão rápida recuperação que é quase certa sua presença no jogo desta tarde. E Muller assinava seu novo contrato, praticamente garantindo sua escalação, mesmo sem treinar duro há muito tempo.
Tudo isso porque São Paulo e Palmeiras, que inauguraram feroz disputa particular nos anos 40, reeditada nos 70, invadiram os 90 praticamente sozinhos na rinha. No começo, só deu tricolor. Mas, no ano passado, o Palmeiras emparelhou.
Este, porém, parece ser o ano da virada palestrina, que sonha com a faixa de campeão mundial, que já está se impregnando na pele dos tricolores.
Neste Campeonato Paulista, até agora, o Palmeiras, além de manter a invencibilidade, revela uma solidez incomparável. É um time sem nervos nem buracos. Joga na mesma toada, seguro, impassível e implacável, com a precisão de um computador. Já o tricolor tenta, experimenta, busca a sua formacão ideal. Ressente-se da ausência de Ronaldão na defesa, onde Júnior Baiano faz o papel de clone às avessas (só se assemelham no tamanho e na cor). Procura o lugar exato no meio-campo para Axel, enquanto o ataque pede socorro a Muller, que certamente não voltará no pique total.
Contra a Ponte, o tricolor revelou toda a sua ciclotimia. Fez um primeiro tempo avassalador e um segundo deplorável.
Mas, hoje, todo o retrospecto, toda lógica do jogo, ficam em suspenso. Pois o que entra em campo é uma força superior, capaz de reverter qualquer situação, desde contrariar o óbvio até despertar os mortos.
Mas, se quiserem um palpite. Um simples, aleatório e irresponsável palpite, aí vai: dá Palmeiras.
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As mudanças introduzidas pela Fifa na próxima Copa são uma boa pedida: os três pontos por vitória estimularão um pouco o futebol ofensivo. Não muito, mas o suficiente para a turma correr atrás da vitória até o fim do jogo. E a presença dos 11 reservas no banco já devia ter sido adotada há muito tempo. Assim como a substituição do goleiro, independente das duas alterações já convencionais.
A lamentar apenas –e mais uma vez– as declarações rasteiras, ofensivas e estúpidas do presidente Havelange sobre Pelé. Por elas, parece já ter chegado a hora do fim do reinado de Havelange no futebol. O de Pelé nunca terá fim.
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Quando a vida imita o cinema: a malvada Tonya se descontrola e dança; a bela e estóica Nancy deixa a cena com os louros (quiçá o loiro galã também) e sob aplausos da platéia. O roteiro já está prontinho. Quando começam as filmagens?
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Toninho Guerreiro, herói da Vila e do Morumbi, está há anos enterrado num cemitério de Bauru. Sobre sua lápide, um daqueles retratos de Toninho, emoldurado à antiga. Na semana passada, o retrato sumiu. Procura daqui, procura dali, e o retrato foi encontrado numa tumba lá adiante. A viúva e os amigos não têm dúvida. Foi o espírito boêmio do Toninho, que, depois de uma longa noitada, errou de morada.

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