São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Juros podem tornar a compra mau negócio

TELMA FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Juros podem tornar a compra mau negócio
Acúmulo de juros multiplica a dívida, especialmente em financiamentos com amortização mais lenta que o previsto
Fechar a compra de um imóvel sem ter muita clareza a respeito do montante que os juros podem somar ao valor da dívida, pode transformar a aquisição em um mau negócio. Os juros de financiamentos longos, especialmente quando a amortização é mais lenta que o previsto, obrigam o comprador a pagar pelo bem um valor muito superior ao que ele tem no mercado.
Esse é um risco que os mutuários correm com a regra atual dos financiamentos pelo SFH (Sistema Financeiro da Habitação). As prestações são reajustadas mensalmente pelo índice da poupança, só que o PCR (Plano de Comprometimento de Renda) estipula que a parcela não pode superar 30% da renda do comprador. Cada vez que ele utiliza essa "proteção", na verdade transforma a diferença em resíduo. De qualquer forma, terá que arcar com esse resíduo no futuro –ampliando o prazo do financiamento e a incidência de juros.
Francisco Barbosa, 55, estrategista do Private Bank do Citibank, diz que o resíduo acumulado pode ser tão grande, que o mutuário passe a conseguir amortizar muito pouco da dívida principal. "É possível existir até amortização negativa, ou seja, a prestação paga (seguindo o critério de comprometimento de renda) não quita nem os juros incidentes no mês", diz.
Dentro das regras do SFH, o teto para financiamento hoje é de 7.500 UPFs (Unidade Padrão de Financiamento) –cerca de CR$ 24 milhões em fevereiro. Segundo a assessoria da CEF, financiar esse valor em 20 anos (prazo máximo), corresponde a uma prestação inicial de CR$ 307.122,17, com taxa de juros de 11,38% ao ano.
A composição dessa primeira parcela é a seguinte: CR$ 236.365,23 de juros, CR$ 27.337,49 de amortização e CR$ 43.419,46 de seguro. O financiamento é originalmente montado para que, no decorrer do tempo, a proporção entre juros e amortização gradativamente vá se invertendo. Acima de 7.500 UPFs, o crédito bancário pode ser obtido através da carteira hipotecária. Nesse caso, os juros são de mercado.
Segundo Barbosa, em um financiamento longo, ainda que não haja resíduo, o mutuário vai multiplicar sua dívida em função dos juros. "Se comparadas a de outros países, as taxas de juros no Brasil são altas", afirma.
Renda familiarPessoas com renda inferior a US$ 1.600,00 (CR$ 950 mil) dificilmente vão se enquadrar nas opções para a compra de apartamentos novos em São Paulo. Como exemplo, pode-se citar um apartamento na Vila Prudente (zona leste), com 63 m2 de área útil, vendido através do "Plano 100" da Rossi Residencial. O imóvel custa US$ 48 mil.
Rui Gragnani, 35, diretor comercial da empresa, diz que o esse apartamento é ideal para famílias com renda entre US$ 1.600,00 e US$ 2.500,00. A unidade é paga em cem parcelas, com financiamento direto da Rossi. Em fevereiro, o valor da parcela é de CR$ 224 mil (US$ 480,00). As prestações pagas após as chaves são acrescidas de juros de 12% ao ano.
Para o financiamento de CR$ 24 milhões (7.500 UPFs) através do SFH, a renda familiar exigida pela CEF é de CR$ 1,023 milhão.

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