São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Confrontos se espalham 1 dia após massacre

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Mais três palestinos foram mortos e 50 feridos ontem por soldados israelenses, em repressão a protestos pelo massacre na mesquita de Hebron (Cisjordânia), na sexta-feira. Árabes israelenses, gritando "morte aos judeus", levaram os protestos ao coração de Israel, com manifestações em Jaffa, perto da capital comercial, Tel Aviv. Cinco civis israelenses, incluindo um bebê de um ano, foram feridos a pedradas.
"Isso parece uma zona de guerra", disse um repórter da Rádio Israel, pouco antes de interromper as transmissões quando centenas de árabes avançaram contra policiais.
O governo israelense enviou reforço de tropas para impor toque de recolher nos territórios ocupados um dia depois da chacina promovida por um colono que disparou durante dez minutos dentro da mesquita Ibrahim e matou pelo menos 43 muçulmanos. Pela primeira vez, o toque de recolher também atinge os colonos judeus. Mas vários deles entravam e saíam normalmente ontem dos assentamentos de Kiryat Arba e Givat Harsina, vizinhos a Hebron.
"O fechamento dos territórios ocupados vai permitir que impeçamos a entrada de palestinos em Israel, diminuindo no curto prazo o grande risco de ataques. Isso vai nos dar tempo para aliviar as tensões –nossas e deles", disse o comissário de polícia Rafi Peled.
O número de mortes depois do pior massacre desde que Israel ocupou os territórios palestinos de Cisjordânia e faixa de Gaza, em 1967, já era de pelo menos 59 ontem à tarde. A violência se espalhou depois que dezenas de muçulmanos foram mortos enquanto rezavam, às 5h40 de sexta-feira, pelo médico judeu de origem americana Baruch Goldstein (morto em seguida pelos palestinos).
A TV israelense disse ontem que vários dos palestinos mortos na mesquita foram assassinados por soldados, e não pelo colono, e que outros morreram pisoteados durante o pânico que se estabeleceu no local. Segundo representantes da Organização para a Libertação da Palestina, um só homem não conseguiria matar tanta gente. As autoridades israelenses sustentam que Goldstein agiu sozinho, usando um fuzil automático que dispara 750 balas por minuto.
Um dos sobreviventes do massacre, Sharif Zahde, disse ao jornal "The New York Times" que estava ajoelhado e curvado em oração quando ouviu os primeiros disparos. Havia cerca de 800 pessoas rezando no local. Segundo Zahde, houve tiros de arma automática, depois explosão de granadas e, em seguida, mais tiros. "Parecia que os tiros vinham de várias direções. As pessoas começaram a gritar 'Deus é grande"', disse o palestino ao "NYT".

LEIA MAIS sobre o massacre de Hebron na pág. 5

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