São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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Fleury depõe hoje sobre importações

FREDERICO VASCONCELOS
EDITOR DO PAINEL S/A

O depoimento que o governador Luiz Antônio Fleury Filho prestará hoje em Brasília, no STJ (Superior Tribunal de Justiça), sobre as importações de Israel deverá indicar até onde vão suas divergências com o ex-governador Orestes Quércia.
A posição de Fleury aparentemente é menos desconfortável que a de Quércia. O atual governador não assinou papéis comprometedores. Mas há depoimentos de oficiais da PM (Polícia Militar) e documentos nos autos confirmando que Fleury participou da montagem da operação suspeita.
O governador deverá manter sua linha de defesa: "Não tenho qualquer responsabilidade em termos de atos diretos", costuma dizer. A afirmação é interpretada como tentativa de imputar a responsabilidade a seus ex-assessores na SSP (Secretaria de Segurança Pública) ou a Quércia.
Fleury é criticado pelos quercistas por tentar "lavar as mãos" em relação à operação investigada. Ele diz que apenas deu "despachos interlocutórios", ofícios pedindo urgência na tramitação.
Os defensores de Quércia entendem que os dois estiveram juntos na operação. Um dos advogados do ex-governador argumenta que um ex-secretário de Estado não pode alegar que cumpria ordens.
Fleury, ao contrário de Luiz Gonzaga Belluzzo, secretário de Ciência e Tecnologia no governo Quércia, não assinou qualquer contrato. Belluzzo firmou o contrato para as compras de equipamentos para a Unesp. O primeiro contrato para a importação de rádio para a PM foi firmado por um oficial da corporação, no gabinete de Fleury.
Belluzzo, ao contrário de Fleury, assumiu a responsabilidade por atos no processo.
Fleury viajou a Israel para conhecer os equipamentos, recebeu o intermediário das importações, Arie Halpern, da Trace Trading Company, e enviou catálogos de fabricantes israelenses para a Polícia Civil e para a PM. Assessores de Fleury, atuando em seu nome, pressionaram pela aprovação rápida das importações.
Fleury responsabilizou seu sucessor na SSP, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, pelas importações de armas. Mariz (um dos advogados de Quércia) disse, em depoimento, que as compras tinham sido decididas na gestão de Fleury.
O governador tem a seu favor o fato de que a comprovação de superfaturamento –por meio de três perícias oficiais– só alcança equipamentos importados pela Pasta de Belluzzo. Mas o Ministério Público Federal entende que será mais fácil confirmar sobrepreços em armas do que em sistemas sofisticados para as universidades.
Depoimentos de oficiais da PM vinculam Fleury ao documento mais controvertido da operação –o "Protocolo de Intercâmbio" firmado por Quércia e pelo ex-cônsul de Israel Tzvi Chazan, espécie de "guarda-chuva" que justificou a falta de licitação.
Fleury disse a esses oficiais que os recursos viriam de verbas do Estado, não onerando o orçamento da PM, e prometeu suplementação de recursos. A suplementação foi autorizada por Quércia em despacho que vinculava as importações ao protocolo e que já indicava –seis meses antes do primeiro contrato– que os produtos a serem importados seriam de procedência israelense.
Quércia e Fleury, segundo seus assessores e advogados, preferiram não se manifestar.

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