São Paulo, terça-feira, 1 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Votação será 'vôo cego', avalia equipe econômica

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Votação será 'vôo cego',avalia equipe econômica
O governo admite que a tramitação no Congresso da MP (Medida Provisória) que cria a URV será um "vôo cego", conforme expressão ouvida ontem pela Folha no Ministério da Fazenda. Mas, de público, o ministro Fernando Henrique Cardoso é obrigado a exibir otimismo quanto à perspectiva de aprovação da MP sem grandes alterações.
O ministro disse, em café de manhã com jornalistas, que as resistências ao plano econômico se dissolveriam assim que "o Congresso entender que os salários seguirão variação próxima do dólar e, os preços, não". Completa FHC: "Como é que o Congresso vai pedir que os preços subam diariamente?".
Emendas
Mas, reservadamente, a equipe econômica está ciente da possibilidade de que sejam apresentadas centenas de emendas ao projeto original e trabalha com a possibilidade de que o Congresso tente converter a MP em projeto de conversão (nome que se dá a uma MP depois de modificada pelo Congresso).
Essa perspectiva é tão presente que se chegou a pensar, na equipe econômica, em amarrar de tal forma o texto que ficasse impraticável a apresentação de emendas. O governo apenas explicitaria a intenção de criar a URV e depois uma nova moeda, sem descer a detalhes, que ficariam a cargo da própria Fazenda.
A idéía foi abandonada a partir da constatação de que, nesse caso, a MP seria tão vaga que as incertezas entre os agentes econômicos permaneceriam enormes, afetando o conjunto da economia.
Há também na Fazenda o receio de que o Congresso tente amarrar o governo por meio de uma vinculação entre o Fundo Social de Emergência (FSE) e a MP da URV. O FSE já foi aprovado, mas ainda não foi promulgado. O FSE, segundo o governo, é essencial para o equilíbrio fiscal, sem o qual a fase 3 do plano (implantação do Real) não será iniciada.
Controle de preços
O temor, na equipe econômica, é o de que o Congresso tente a seguinte barganha: promulga o FSE apenas em troca de alterações na MP da URV que beneficiem os salários ou estabeleçam algum tipo de controle de preços. Pior ainda: o receio é o de que eventuais propostas de alterações sejam aceitas pelo presidente Itamar Franco, já que ele próprio chegou a propô-las durante as duas reuniões ministeriais do fim-de-semana. (Clóvis Rossi)

Texto Anterior: Partidos pretendem negociar alterações
Próximo Texto: Plano divide presidenciáveis
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.