São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Acordo interno pode levar PT para revisão

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A direção nacional do PT e bancada federal do partido podem fechar hoje um acordo sobre a posição da legenda no Congresso revisor. Luiz Inácio Lula da Silva, Rui Falcão (vice-presidente do PT e dono hoje da maioria ortodoxa na cúpula) e o deputado José Dirceu vão conversar por telefone e o mais provável é que surja uma solução que contemple a possibilidade de a bancada conseguir a autonomia para votar em alguns pontos da revisão.
O acordo, que começou a ser costurado por Lula e Falcão durante a semana passada em Santa Catarina, prevê que a bancada continuará a priorizar a obstrução e a tentar com os outros partidos uma pauta que elimine o exame dos monopólios. Mas, numa concessão aos deputados da legenda, a solução caminha para autorizar a bancada a tomar decisões de forma independente, incluindo-se aí votar quando forem discutidos determinados assuntos.
Falcão, o mais radical adversário da revisão dentro do PT, está sendo convencido que, entre os vários episódios recentes que mostram a luta pelo poder interno, o da revisão é o que causou maior desgaste para o partido e, principalmente, para a candidatura de Lula à Presidência da República.
Para não passar a imagem pública de derrotado, o grupo de Falcão pode impor à bancada, na resolução que sairá na reunião do fim-de-semana do Diretório Nacional do PT, um texto duro de críticas à revisão. O objetivo é descaracterizar o acordo como uma adesão à tese dos deputados, que reivindicam o fim do veto expresso ao Congresso revisor. Lula quer entrar na reunião do diretório com uma solução já negociada e aceita pela maioria.
A ala ortodoxa do petismo desistiu, por enquanto, de patrocinar o chamado "manifesto dos pobres", que seria uma resposta da base militante do partido ao manifesto que intelectuais estão elaborando e que, em seu texto de convocação para uma reunião no próximo sábado, fez críticas à cúpula do PT.
O raciocínio da ala radical é que o caráter de confronto do manifesto dos intelectuais será esvaziado depois da pressão exercida pela direção. Por isso, um texto de resposta com apoio à cúpula só traria visibilidade ao movimento que, na análise da ortodoxia, já está esvaziado.
O deputado Florestan Fernandes (PT-SP) chegou a ser cogitado para encabeçar um manifesto contrapondo-se àquele em que intelectuais criticam a direção do partido. A idéia também foi arquivada, por enquanto.

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