São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Intelectual vê manobra stalinista

FERNANDO DE BARROS E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O movimento de intelectuais e sindicalistas do PT resolveu abaixar o tom das críticas que vinha fazendo à direção do partido, dominada pela esquerda ortodoxa. Diante da reação agressiva da cúpula, liderada pelos deputados estaduais Rui Falcão (vice-presidente nacional do PT) e Arlindo Chinaglia (presidente estadual do PT), a ordem agora é amenizar o conteúdo do manifesto que será lançado no próximo sábado, na PUC de São Paulo. A "opção branda" frustrou alguns adeptos e esvaziou o movimento.
O economista Francisco de Oliveira, presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), saiu contrariado da reunião que reuniu 20 líderes do movimento no último domingo. "O manifesto vai sair ameno, em tom menor. As pessoas não querem aparecer atacando a direção do partido", disse Oliveira. Segundo ele, "a questão é saber se a direção do PT vai querer agir com o presidente Lula como faz hoje com a bancada, tutelando-a".
Destoando do "tom menor" do economista Paul Singer e do físico Luis Carlos de Menezes, Oliveira acusou Chinaglia e Falcão de fazer "manobras stalinistas". "O que eles vem dizendo é típico dos stalinistas, que tentam desqualificar quem pensa diferente. Não aceito que digam que Paul Singer, Francisco Weffort e Vicentinho foram manipulados".
Segundo Oliveira, se continuar agindo assim, a direção do PT vai obrigar um eventual governo Lula a escolher entre duas alternativas igualmente desastrosas: "Ou a burocracia do partido pesa como chumbo sobre o Lula ou ele manda o partido às favas e cai no populismo, como o Menem".
Arlindo Chinaglia disse ontem que ainda não sabia "qual o objetivo do manifesto". "Se o problema é propor alianças com o PSDB, eles precisam se posicionar a respeito do arrocho salarial que o plano FHC promove", atacou o deputado.
Hoje à noite os intelectuais se reúnem novamente. Segundo Menezes, o objetivo do manifesto "é colocar a campanha de Lula nas ruas", disse Menezes, recuando em relação à disposição original do movimento, que visava contestar a interposição da cúpula do PT entre Lula e a sociedade.

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