São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Itamar suspende demissão de Margarida

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de ter confidenciado aos assessores mais próximos que demitiria a ministra dos Transportes, Margarida Coimbra, o presidente da República, Itamar Franco, resolveu fazer suspense sobre o caso. O presidente ficou irritado com a divulgação antecipada da notícia. O presidente já tinha até um nome para a vaga de Margarida: convidaria Luciano Brandão, ministro do TCU (Tribunal de Contas da União).
Anteontem, porém, Itamar assistiu à notícia sobre o afastamento da ministra em plantão do "Jornal Nacional", da TV Globo, justamente no instante em que recebia Margarida em audiência, no Palácio do Planalto, e ficou muito aborrecido. A assessoria da ministra informou que, no encontro com o presidente, ela se disse inocente, mas entregou o cargo.
José de Castro
Momentos antes, o presidente da Telerj, José de Castro, amigo pessoal do presidente, havia confirmado que a ministra estava fora do governo. Margarida foi a Itamar para se explicar sobre a denúncia de ter favorecido a empresa Noronha Engenharia. A acusação de favorecimento nasceu de dois bilhetes enviados pelo marido da ministra, Carlos Henrique Siqueira, ao DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem).
Henrique Siqueira pedia nos bilhetes que o DNER acelerasse pagamentos á empresa Noronha Engenharia, da qual era diretor. Ontem, Margarida continuou despachando no ministério.
Tanto a ministra quanto o presidente negaram-se a dar declarações sobre o episódio. O presidente Itamar mandou dizer, por intermédio do seu porta-voz, Francisco Baker, que não tinha "nada a informar sobre o assunto".
Simon
No Congresso, o líder do governo no Senado, Pedro Simon, afirmou: "Se eu fosse presidente ela já teria saído." No ministério, Margarida Coimbra não saiu do gabinete nem para almoçar. Comeu sanduíche, comprado em lanchonete de um shopping da cidade.
Pela manhã, Margarida recebeu o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Mauro Lopes, e assinou despachos de rotina. Em nota à imprensa, a assessoria de Margarida Coimbra não fez nenhuma referência a seu eventual afastamento. Apenas negou que a ministra tivesse mentido sobre as datas de pagamentos feitos pelo DNER à Noronha Engenharia.
Margarida havia informado ao deputado federal Augusto Carvalho (PPS-DF) que o DNER não realizava pagamentos desde 14 de janeiro.
O deputado, porém, exibiu documento, obtido no Siafi (um sistema de computadores que despeja dados do Executivo no Congresso) comprovando a liberação de CR$ 7 milhões no dia 2 de fevereiro do DNER para a Noronha Engenharia.
Na nota que distribuiu ontem, a ministra Margarida Coimbra disse que as informações iniciais, fornecidas pelo DNER, foram mal interpretadas.

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