São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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5 atacantes não tomam a bola de ninguém

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O juiz apitou, recolheu a bola e desceu para os vestiários. No placar do Morumbi, São Paulo 2, Palmeiras 1.
Mas o jogo segue até hoje bolindo com os nervos e a imaginação dos torcedores e na intimidade dos dois clubes.
No Palmeiras, que hoje enfrenta o Cruzeiro pela Libertadores, baixou funda depressão e afloraram dúvidas até então não suscitadas. Por exemplo: Rincón, que tem sido um modelo de meio-campista, passa a viver sob suspeitas injustificadas.
Outras, são velhas questões: Mazinho, que se nega a ir para a lateral, quando assim as circunstâncias obrigarem; Edmundo, que precisa participar mais solidariamente da equipe etc.
Não há razão para tanto alarde. Edmundo levará ainda certo tempo para readquirir sua melhor forma, pois ficou tempo demais parado, discutindo a renovação de contrato. Rincón é um craque excepcional, que, domingo, teve alguns lampejos e não recebeu a ajuda necessária de Zinho, este, sim, que faz da regularidade sua maior arma, abaixo da média. E Mazinho deve se mirar no exemplo de Cafu, que joga bem, sempre, onde o técnico mandar. Se Mazinho não tivesse recursos para atuar na lateral, tudo bem. Mas o rapaz ganhou fama e até um lugar na seleção exatamente na lateral. Não apenas na direita, mas nas duas. Logo...
Por falar em Cafu, ele foi a pedra de toque do renascimento tricolor. Mas sua presença no meio-campo não invalida o aproveitamento simultâneo de Axel, um dos mais completos médios do nosso futebol. E Telê sabe muito bem disso. Que se cuidem Palhinha e Doriva.
Aliás, acho perigosa a deslocação do principal tema de debate da seleção, provocada pelo Matinas, para o ataque, quando o problema está no meio-campo, onde Dunga e Raí são os principais problemas. Dunga, por suas limitações; Raí, pelo buraco negro em que mergulhou muito antes de ir para a França.
Isso porque 1) Parreira será o técnico na Copa, isso é irreversível; 2) Parreira não aceita nem três atacantes, quanto mais cinco. E o bom senso está a respaldá-lo –afinal, se ninguém tomar a bola do adversário, como fazer os cinco esmerilhá-la em direção ao gol inimigo?
E os cinco do Matinas não tomam a bola de ninguém. Para funcionar, a seleção teria de adotar uma tática revolucionária. Na verdade, nem tanto, pois, para não ser muito abrangente, fico com a Holanda de 74, que aplicava com perfeição a lei do impedimento. Reduzia o campo de jogo à área de seu ataque, consequentemente podia manter-se lá na intermediária adversária com um grupo coeso e versátil de atacantes. Contudo, mesmo esse grupo tinha mais meio-campistas que atacantes: Suurbier, Krol, pelas laterais; Van Hanegen, Haan, Neskeens e o próprio Cruyff, todos armadores, a exemplo desse tricolor supercampeão. Sim, porque o principal no futebol moderno é a capacidade simultânea e equilibrada de combater o adversário, tomar-lhe a bola, e, aí, de posse do objeto do jogo, levá-la com técnica e imaginação ao gol inimigo. Especificamente, os cinco do Matinas, estão a meses de cumprir tais tarefas. Poderiam, claro, se fossem preparados para isso. Mas, mesmo essa preparação só teria êxito se houvesse convicção de cada um. Ora, como, se o próprio Edmundo, nesta Folha, diz que não dá?
Porém, se dermos ao meio-campo um Cafu aqui, um Viola ali, por certo, contribuiriam muito mais para nosso poder de fogo. Podem crer.

Um a zero para a Jovem Pan. Foi a única a se lembrar dos 40 anos da conquista do Quarto Centenário, pelo Corinthians, data incluída na história da cidade, graças ao gremista Marcão Faermann e ao secretário da Cultura, Rodolfo Konder.

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