São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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'Secretária' documenta o arrivismo

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: Uma Secretária de futuro
Produção: EUA, 1988, 113 min.
Direção: Mike Nichols
Canal: Globo, 14h15

É uma dessas estranhas comédias, em que o riso acaba travado na garganta. Não por faltar ao filme de Mike Nichols a elegância e a boa direção de atores habituais. Ou mesmo senso de humor.
O problema é que "Uma Secretária de Futuro" pega pesado na questão do arrivismo. Ao longo de uma trama a que não faltam golpes baixos, e em que uma executiva (Sigourney Weaver) tenta, entre outras, roubar o trabalho de sua secretária (Melanie Griffith), o espectador é introduzido à sordidez dos escritórios bacanas, às pequenas mesquinharias com resultados grandes.
Nenhuma época é alheia a questões dessa natureza. Mas a era yuppie é particularmente permeável a tais atitudes. É como se aspirações antigas da humanidade (solidariedade, felicidade) fossem varridas em função de uma obsessiva realização profissional.
Trabalho de moralista, mas sem pregação moral, "Uma Secretária" indaga sobre os rumos do humano num momento determinado: é, sobretudo, um incisivo documento de época.
Não será demais lembrar que esse filme entrou na disputa do Oscar, no ano de sua realização, concorrendo em várias categorias (filme, diretor, atriz, atriz coadjuvante), mas um tanto desacreditado, por ser comédia.
Não há como comparar o alcance de "Uma Secretária de Futuro" com o do principal ganhador naquela ocasião, "Rain Man". Este último entra na categoria dos filmes de assistente social: sobra-lhe em boa vontade o que falta em alcance.
Nesse sentido, o tempo ajuda: o filme de Mike Nichols ainda hoje é bem vivo e atual. O de Barry Levinson tem um interesse quase hospitalar. (Inácio Araujo)

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