São Paulo, quarta-feira, 2 de março de 1994
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Muito longe da euforia

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Não há motivos para euforia. O plano formalizado anteontem apresenta avanços e boas notícias –mas é apenas o começo. Há uma série de dúvidas cruciais, e a primeira delas é até quando Fernando Henrique Cardoso fica no Ministério da Fazenda. Nem ele sabe com precisão.
As boas notícias são óbvias. Não estamos, agora, diante de um pacote e as regras do jogo mudam lentamente. Priorizou-se o combate aos rombos orçamentários (déficit público). A equipe técnica, escaldada com o fracasso do Plano Cruzado, tomou uma bateria de precauções. Por exemplo: cautela com os reajustes salariais e os juros, ambos capazes de detonar uma onda de consumo.
Existem ainda etapas delicadas para o plano, exigindo árdua negociação dentro e fora do Congresso. Tudo isso num ano naturalmente excitado pela sucessão presidencial. E não podemos esquecer que presidente se chama Itamar Franco.
Itamar Franco deu razoável autonomia de vôo para Fernando Henrique –até porque não tinha muita alternativa. Mas suas intervenções pelos bastidores sempre demonstraram tentação populista, refreadas em parte porque seu ministro da Fazenda teve de jogar por várias vezes o cargo na mesa.
Como Itamar reagiria diante de um ministro sem prestígio político? Ficaria em silêncio? E caso interferisse, o ministro permaneceria no cargo? O fato é que administrar uma inflação de 40% já é, por si só, complicado. Ainda mais no meio de uma sucessão generalizada, no final de governo e, como se não bastasse, com presidente cuja lucidez não é exatamente o ponto forte.
PS – Não dá para entender. O PSDB informa ser impossível uma aliança com o PMDB, de Orestes Quércia, por questões morais. Tudo bem. Compreensível. Mas insinua que aceitaria uma aliança com o PFL, de Antônio Carlos Magalhães –fala-se até que para sacramentar o acordo a vice seria dada a seu filho, o deputado Luís Eduardo Magalhães. Vamos reconhecer: Quércia apoiou o impeachment. Mas ACM fez tudo o que pôde e até o fim para que Fernando Collor permanecesse na Presidência e, assim, mantivesse intacta a "República do Acarajé".

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