São Paulo, quinta-feira, 3 de março de 1994
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Indústria vai lutar contra preços médios

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A conversão de cruzeiros reais para URV (Unidade Real de Valor) enfrenta problemas setoriais. A indústria de higiene e limpeza vai lutar contra a decisão do governo de tomar como base o preço médio dos produtos dos últimos quatro meses de 1993 para transformá-lo em URV. A indústria de alimentos vai lembrar o governo que depende de produtos agrícolas –que custam mais na entressafra – e que por isso não pode trabalhar com preço "congelado" em URV durante o ano.
Essas são duas das questões que os empresários dos setores de alimentos e higiene e limpeza vão discutir hoje com José Milton Dallari, assessor especial para preços do Ministério da Fazenda, antes de adotar o novo indexador. "Não sei se perdemos ou ganhamos com isso com a conversão pela média. Só sei que somos a favor da livre negociação", diz José João Locoselli, presidente da Abipla (Associação Brasileira da Indústria de Produtos de Limpeza), que reúne 100 empresas. Esse setor fatura US$ 3 bilhões por ano. Seis grupos detêm entre 80% e 90% desse mercado.
Locoselli conta que as vendas do setor caíram 5% no primeiro bimestre do ano, na comparação com igual período de 93. Para manter a produção e, com isso, não aumentar custos fixos, os empresários, afirma, estão reajustando preços abaixo da inflação. "Nossos preços estão defasados entre 5% e 7% em relação a inflação." Ele diz que é consenso entre os empresários do setor de que a conversão para URV deve levar em conta o último preço do produto. "E a Petrobrás vai ter preço convertido em URV pela média dos últimos quatro meses de 93?", questiona. Os derivados de petróleo são a principal matéria-prima da indústria de higiene e limpeza.
Mário de Fiore, diretor de relações externas do grupo Cragnotti & Partners, que, no Brasil, controla a Bombril e a Orniex, diz que tem muitos detalhes para acertar com fornecedores e clientes. Para ele, se o governo fixar data para a entrada da nova moeda pode facilitar o acerto.
"Acho que cada setor deve discutir a conversão nas câmaras setoriais." Segundo ele, as negociações entre indústria, fornecedores e clientes estão paralisadas. Há receio de perdas no momento em que for feita a conversão de cruzeiros reais para URV.
Walter Fontana Filho, vice-presidente da Sadia, acha que o mercado é quem deve definir o momento em que cada setor estará "urvizado". Para ele, uma questão importante a ser discutida com o governo é o fato de a indústria alimentícia depender de produtos agrícolas, que tem preços variados ao longo do ano por causa dos períodos de safra e entressafra.
Segundo ele, se os preços dos produtos da Sadia forem "urvizados" tomando-se como base a média de preços dos últimos quatro meses do ano passado, alguns deles vão ficar mais caros e outros mais baratos.
Ele explica: "De setembro a dezembro do ano passado nós pagávamos US$ 8 a saca de milho. Agora estamos pagando US$ 6,5. Naquela época, vendíamos o quilo de frango a US$ 1,2. Hoje vendemos a US$ 0,90. Assim, temos condições de fazer produtos com preços mais baixos do que nos últimos quatro meses de 1993."
Fontana Filho conta que os aumentos de preços dos produtos derivados de carnes da Sadia variou de 17% a 34% em fevereiro. Foi menor do que a inflação, diz ele, porque houve redução nos preços das matérias-primas em razão da nova safra. Para este mês, continua, os preços deverão subir entre 38% e 39%. "Mas não está fácil. O mercado está parado. Sem volume, temos que reduzir preços."

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