São Paulo, quinta-feira, 3 de março de 1994 |
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Bonengel fala sobre o polêmico 'Neonazi'
LEON CAKOFF
* Folha - O que foi que o motivou a realizar um documentário tão explosivo? Winfried Bonengel - Para provocar reações contra o racismo. Eu nunca tinha pensado em agir politicamente na vida. E agora me vejo agindo assim. Penso que é um jeito das pessoas reagirem contra este movimento que cresce por todos os lados e ainda há gente que finge que não está acontecendo nada de anormal. Folha - Você se incomoda em ter se tornado um especialista na temática do neonazismo? Bonengel - Em dois anos e meio já rodei 15 filmes e escrevi um livro sobre os neonazistas. O livro –"Acerto de Contas", na tradução do alemão– foi publicado na Alemanha, Japão, Dinamarca e Noruega. Fico incomodado de trabalhar tanto sobre o tema. Por outro lado fico ainda mais incomodado de ver que o movimento neonazista cresce em todo o mundo. A televisão italiana quis me contratar para dirigir um documentário sobre o recrudescimento do fascismo na Rússia e no Leste Europeu. Não aceitei. Posso até continuar a filmar no mesmo rumo, mas agora preciso me dedicar a um filme de ficção. Eu mal sabia o que era um documentário antes de estudar cinema. Folha - Sob que condições Ernst Zundel e Ewald Althans concordaram em ser filmados? Bonengel - Nenhuma condição foi imposta por eles. Ewald é um exibicionista. Sua regra de conduta, ele diz, é, any news is good news... Falem bem ou mal, para ele o importante é estar presente na mídia. O que fizemos foi segui-lo por toda parte. Confesso que na Polônia foi insuportável ver as suas provocações, especialmente em Auschwitz. Mas, graças a todos estes filmes, descobrimos muita coisa chocante. Acabo de rodar um outro documentário em vídeo "Er war der Fuhrer von Brlin", que foi responsável por convencer a um militante (Ingo Hasselbach) a sair do movimento neonazista depois de fazer muitas denúncias. Descobrimos com ele que há neonazistas em Berlim contrabandeando armas dos russos faz muito tempo... O que Ewald não nos deixou filmar foi sua vida privada, com exceção de uma visita que filmamos com ele à casa de seus pais. Ele não assume no filme, por exemplo, que é gay e nem pode frequentar os clubes gays na Alemanha. Folha - Como se dividem as opiniões sobre o filme? Bonengel - Mesmo na Alemanha, 85% das críticas foram a favor. Os artigos contra não foram escritos por críticos de cinema e sim por cronistas políticos. Para mim é uma forma de eles esconderem o fracasso por não terem previsto o crescimento do racismo. A polêmica na Alemanha só começou com uma campanha desencadeada pela revista "Del Spiegel", que depois comprou os direitos de exibir "Profissão Neonazista" na televisão alemã. Parece uma contradição mas é uma jogada de marketing. "Der Spiegel" é dona de dois horários importantes em redes privadas de televisão –a RTL e a Vox. A polêmica deve fazer parte da estratégia comercial deles. É muito esperto do ponto de vista comercial, mas não do moral. Não fiz um filme para apontar soluções. Só mostro que a realidade é pior que a ficção. Que cada pessoa encontre uma solução para o problema. Hoje é arriscado viver na Alemanha. Texto Anterior: Chaikin faz aventuras adultas Próximo Texto: Eastwood e Deneuve vão presidir Cannes Índice |
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