São Paulo, sexta-feira, 4 de março de 1994
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Lula e o plano FHC

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem alguma coisa errada com todos aqueles que saem atirando no plano FHC. Lula, por exemplo. Na propaganda petista, ontem à noite, também ele atacou o plano. Marcou posição, como se diz. Mas não pareceu muito convicto. Foi uma das últimas entradas do candidato na propaganda. Era para ser o ponto alto de todo o programa, de meia hora. E foi seu anticlímax.
Lula já começou franzino, na crítica, ao falar: "Há muito tempo o Partido dos Trabalhadores vem exigindo que seja feito um plano de estabilização para reduzir a inflação." Daí saiu para defender o "controle" dos preços pelo governo –e "sobretudo" para sugerir que todos fiquem "alertas para os trabalhadores não pagarem outra vez a conta".
Quer dizer, nem ele tem lá muita certeza quanto aos efeitos do plano sobre o salário. Sabe apenas que precisa marcar posição, nem tanto contra o plano, mas contra FHC, um seu adversário. Tanto é assim que na última frase, do vago discurso em que tratou das medidas econômicas, Lula quase muda de assunto. Preferiu condenar, não o plano, mas o "objetivo eminentemente eleitoral".
Dinossauros
Lula estava pouco inspirado, com seus discursos comprometidos e sobrecarregados de fórmulas retóricas. Restou assim, do programa, uma última visão de um gênero de propaganda política que está com os dias contados. E que, como ficou claro ontem à noite, chegou ao seu auge. Exemplo maior do desenvolvimento foi o clipe que abriu o programa.
Não mais com uma música popularesca, um daqueles hinos baratos de campanha, mas com Villa-Lobos. Não mais com imagens excessivas, melodramáticas, mas com cenas concentradas em expressões, em olhares. Sempre com personagens populares, de velhos e mulheres, pobres todos. Guardadas as proporções artísticas, desculpada a heresia, havia um pouco de Glauber Rocha na propaganda política.
Mas havia também um José Dirceu, que faz antever o desastre que promete o novo formato dos programas eleitorais, este ano. Ao vivo, os políticos vão estar voltando no tempo para fazer seus discursos com retórica grosseira, como aquela de Dirceu, tentando viabilizar sua candidatura. Uma retórica atrasada, como se estivessem todos em algum palanque do interior, anos, décadas atrás. Antes da televisão.

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