São Paulo, sexta-feira, 4 de março de 1994
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O boi fujão

Quando começou a faltar carne nos açougues durante o Plano Cruzado, o governo decidiu mobilizar policiais e funcionários públicos numa operação de caça ao boi no pasto. Entre os destacados para a operação estava o próprio coordenador da Comissão Interministerial de Preços, Aloísio Teixeira.
Por dois meses, Teixeira praticamente não conviveu com sua família. Passava os dias sobrevoando fazendas em aviões militares e observando policiais federais correndo, desajeitados, atrás de reses desembestadas.
A esposa, Beatriz, lamentava que Aloísio não estivesse em casa para acompanhar o filho caçula, Carlos, de um ano e meio, pronunciar as primeiras palavras. Mas entendia o esforço que o Plano Cruzado exigia e cuidava para que, pelo menos, as crianças o vissem nos telejornais.
Foi numa dessas ocasiões que, pela primeira vez, Carlos chamou papai. Olhando as imagens de manadas fujonas na TV, falou:
– Papai...boi...
Beatriz ficou preocupada com a sintonia encontrada pelo filho. Antes que fosse necessário um psicanalista, Teixeira abandonou a caça.

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