São Paulo, sexta-feira, 4 de março de 1994
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Plano argentino depende de congelamento

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A estabilização da economia argentina continua dando água na boca dos brasileiros. Mas o Plano FHC pode enterrar de vez o famoso "efeito Orloff" (o Brasil seguir os passos da Argentina, com atraso), tantas são as suas diferenças frente ao Plano Cavallo.
A principal diferença está no tipo de âncora cambial. A economia argentina já estava dolarizada ao final de duas hiperinflações e o governo, reconhecendo o fato, congelou a taxa de câmbio e permitiu a livre conversibilidade do dólar.
No Plano FHC a URV também começa igualada ao dólar, mas até agora o governo não se comprometeu a congelar indefinidamente essa taxa de câmbio. Além disso, a MP que anunciou a URV proíbe terminantemente os contratos em dólar.
Déficit
O câmbio congelado e o dólar livre serviram, na Argentina, para garantir que em hipótese alguma o governo conseguiria financiar seu déficit imprimindo dinheiro.
Se a troca do peso por dólar é livre, um excesso de pesos levaria a uma pressão de demanda por dólares. Ou seja, o dólar teria de ficar mais caro e o peso, desvalorizar-se. Seria o fim da âncora cambial.
Para impedir o vermelho nas contas públicas e assim garantir a estabilidade da taxa de câmbio entre peso e dólar, o governo Menem partiu para uma privatização ofensiva e radical.
As oportunidades de negócios geradas assim, a alta dos juros reais e a garantia de livre movimentação de capitais ajudaram a consolidar o câmbio congelado.
Um resultado preocupante desse congelamento tem sido o déficit crescente do comércio exterior argentino. Muita gente espera o dia D em que o congelamento seja rompido.
Outros acreditam que o déficit comercial não é um mal em si enquanto houver capitais externos interessados na Argentina. A entrada de capitais financia o déficit no comércio.
Outra diferença importante entre o Plano Cavallo e o Plano FHC é a anistia fiscal. Para segurar a pressão dos exportadores argentinos e aliviar a barra dos produtores locais, expostos à concorrência externa, o governo Menem promoveu várias anistias e facilidades fiscais.
É mais uma vez o oposto do Brasil, onde o governo tem recorrido não apenas à pressão cada vez maior da Receita Federal, mas também ao puro e simples aumento de impostos.

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