São Paulo, sexta-feira, 4 de março de 1994
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'Só trabalho participando'

FREDERICO MENGOZZI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em "Sedução da Carne" (Senso, 1953), de Visconti, sete nomes –Visconti, Suso, Giorgio Prosperi, Carlo Alianello, Giorgio Bassani, Tennessee Williams e Paul Bowles– assinam o roteiro. Nem todos com o mesmo peso, diz Suso.
Folha – Como é a divisão de trabalho com os outros roteiristas de um filme?
Suso – Conto uma história. No começo dos anos 50, Visconti e eu escrevemos um roteiro, "Marcia Nuziale" (Marcha Nupcial). Ainda existia censura na Itália e o texto foi julgado inadequado, porque fazia propaganda do divórcio. O produtor disse que faria um outro projeto com Visconti. Naqueles dias, tinha lido "Senso" (no cinema, "Sedução da Carne"), reedição de contos de Arrigo Boito, organizada por Giorgio Bassani, e sugeri a Visconti. O produtor aceitou. Chamamos Bassani. Feito o roteiro, pensaram em rodar o filme em inglês. Visconti queria uma versão em inglês, e não uma simples tradução, e chamou Tennessee Williams para traduzir os diálogos e colocar qualquer coisa de pessoal.
Folha – Por que chamou Tennessee Williams?
Suso – Visconti estava encenando seus textos para o teatro. Tennessee Williams chegou a Roma, mas pouco se importou com aquela história e sumiu –Visconti também sumira, preocupado com as locações. Eu fiquei com o amigo de Williams, que era Paul Bowles. Visconti voltou e ficou muito irritado com Williams, que não fez nada e desapareceu. Depois, para se desculpar, escreveu alguns diálogos. Tudo para explicar que vários nomes assinam um roteiro e, na realidade, nem todos seguem o filme. Eu só sei trabalhar participando. Emprestar o nome não interessa. (FMe)

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