São Paulo, sexta-feira, 4 de março de 1994
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ONU ignora violação da trégua em Sarajevo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O cessar-fogo em Sarajevo, capital da Bósnia, foi rompido ontem por granadas de morteiros, disparos de artilharia e foguetes e pelo menos dez minutos de fogo de metralhadora, mas a ONU preferiu pedir à Otan que não lançasse nenhum ataque aéreo em represália. A ameaça de ataques da aliança militar ocidental foi o principal instrumento para o cessar-fogo, em vigor desde 20 de fevereiro.
O general britânico Michael Rose, comandante das forças de paz da ONU na Bósnia, comunicou à Otan que os combates foram apenas um "incidente isolado" e que não seriam necessários ataques.
O general francês Jean Cot, comandante das forças da ONU na ex-Iugoslávia, disse que serão necessários mais 10.650 soldados na Bósnia para garantir o respeito ao cessar-fogo, além dos 15 mil que já estão lá. Somente em Sarajevo seriam necessários mais 4.600. Cot criticou os EUA por se recusarem a enviar tropas até que seja concluído um acordo de paz entre sérvios, croatas e muçulmanos: "É uma idéia estranha e pouco corajosa". O Reino Unido prometeu mais tropas.
Ontem houve combates também em Bihac e Maglaj, cidades muçulmanas sitiadas pelos sérvios. Bihac (oeste da Bósnia) sofreu pesado bombardeio de artilharia. Onze pessoas teriam morrido com a explosão de um obus no centro da cidade. Maglaj, no norte do país, voltou a ser bombardeada. Um comboio da ONU com alimentos deveria ter chegado à cidade, mas foi detido por patrulhas sérvias.
No centro e no sul da Bósnia, a trégua entre muçulmanos e croatas, assinada há uma semana, vem sendo respeitada. Líderes das duas forçass assinaram terça-feira um acordo de paz que prevê a unificação dos territórios sob seu controle numa federação, que eventualmente se juntaria à Croácia.
Representantes das duas partes devem se reunir hoje em Viena para discutir detalhes do acordo. O chanceler da Croácia, Mate Granic, disse em Paris que os sérvios-bósnios serão convidados a participar da federação.
O líder dos sérvios-bósnios, Radovan Karadzic, disse em Moscou que estaria disposto a abrir mão de um quarto do território controlado por suas forças (72% da Bósnia). Ele falou em ficar com 54% ou 55%, "para conseguir a paz".
Os 50 militares que Moscou prometeu enviar a Tuzla, cidade muçulmana sitiada no nordeste da Bósnia, devem seguir hoje da Rússia para Zagreb. Frente a uma ameaça velada de uso da força pela ONU, a Rússia convenceu os sérvios, seus aliados, a permitir a reabertura do aeroporto de Tuzla em troca da presença de tropas russas.

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