São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
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Quércia depõe no STJ e acusa adversários

FREDERICO VASCONCELOS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Em entrevista coletiva após seu depoimento ao Superior Tribunal de Justiça, o ex-governador Orestes Quércia procurou manter um "clima de campanha" e tentou fugir da explicação sobre sua participação. Ele atribuiu a investigação a "interesses políticos, tendo em vista as eleições presidenciais".
Em entrevista concedida no Carlton Hotel, Quércia leu uma "Nota à imprensa", na qual diz que o caso das importações irregulares de equipamentos de Israel pelo governo paulista é resultado de uma "campanha de calúnias" que atribui ao "setor mais retrógrado e parasitário da elite de São Paulo".
O ex-governador responsabilizou os escalões inferiores das secretarias de governo pela operação, disse que "não houve interferência do governador".
*
Folha – O senhor atribui interesse político a essa investigação. O senhor está sendo investigado por uma decisão da Corte Especial do STJ. O senhor diz que a investigação tem interesses políticos. Os juízes que decidiram pela investigação têm interesses políticos?
Orestes Quércia – Eu fiz menção aos membros do Ministério Público . É isso aí que está escrito. Tenho o máximo respeito pelos juízes do STJ. Confio serenamente na Justiça deles.
Folha – Como surgiu o protocolo?
Quércia – Sobre esse assunto, eu já expliquei. Está aqui na nota.
Folha – Esta é uma nota política. Qual é sua avaliação da defesa do governador Fleury?
Quércia – Foi um depoimento bom, explicando tudo que o Ministério Público quis que ele explicasse.
Folha – O senhor esperava uma defesa mais incisiva do governador Fleury em relação à participação do senhor no caso?
Quércia – O senhor conhece a defesa do governador Fleury?
Folha – O senhor deve conhecer mais do que eu, pois fez a operação com ele. Em que medida esse distanciamento do governador Fleury existe de fato ou é uma jogada política para encobrir as possíveis dificuldades que esse processo possa trazer à sua campanha?
Quércia – O que você falou é tão absurdo que eu nem...
Folha – O Estado estava bem defendido, bem garantido, ao comprar US$ 310 milhões de equipamentos de um único empresário, governador?
Quércia - (lendo a nota) – "Todos os procedimentos dessas importações foram corretas e não houve qualquer irregularidade. Pedidas pelo departamentos competentes da secretarias, não houve interferência do governador".
Folha – Que outra medida foi tomada com base no protocolo de Israel, além dessa compra?
Quércia – Nenhuma.
Folha – O protocolo foi feito para a compra?
Quércia – Não. O protocolo não tem nada a ver com a compra.
Folha – Cada contrato faz referência ao protocolo. O protocolo foi usado como justificação para a operação.
Quércia – Isso aí é uma demonstração de transparência. Está escrito aqui.
Folha – Se o protocolo foi feito só para essa operação, o que São Paulo ganhou com esse protocolo?
Quércia - Esta operação não tem nada a ver com o protocolo. Está aqui escrito (lê a nota) "O protocolo de Israel não pode ser ligado a qualquer decisão de compra. Nenhuma importação foi realizada com base nele". Protocolos semelhantes a ele foram assinados com a Rússia, Espanha, Argentina e outros países. Essa compra não tem nada a ver com o protocolo.

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