São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
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Entusiasmo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Entusiasmo
Nem tudo foi jogo de cena nas entrevistas do candidato Fernando Henrique Cardoso, ontem. Pelo menos com uma frase ele mostrou sinceridade, mais do que cuidado e, na sua própria expressão, "responsabilidade". Foi quando declarou que a decisão sobre uma candidatura "não pode ser fruto de um entusiasmo momentâneo, por causa do lançamento de um plano", frase reproduzida no Jornal Nacional.
Não que FHC esteja sendo sincero ao insistir que não é candidato. Como disse o âncora do TJ Brasil, rindo muito, "Fernando Henrique é candidato a presidente da República!" Mas até o ministro, que nunca foi exemplo de humildade, parece assustado diante de tanto "entusiasmo". Ainda citando o TJ: "O empresariado está vendo nele uma tábua de salvação contra Lula."
Não resta dúvida, depois do almoço de ontem. Em telejornais variados, surgiram defendendo ou pedindo a candidatura de Fernando Henrique Cardoso o presidente da federação dos bancos, o presidente de uma bolsa de valores, o presidente do sindicato das empreiteiras. Alguns, como o banqueiro, já estão dizendo que a presença do candidato FHC no governo não é uma condição para o seu plano dar certo.
O presidente Itamar Franco, da Venezuela, mandou recado de que também ele acha que Fernando Henrique pode sair, sem problemas para o plano. Pegando carona no "entusiasmo", Itamar disse, segundo o Jornal Bandeirantes: "A nova política econômica seguiria inalterada, porque o plano não é mais do Itamar, nem do ministro, mas do país." (Aliás, ninguém jamais afirmou que o plano era do Itamar.)
O entusiasmo não tinha fim, atingindo antigos adversários. Todos apareceram na televisão disputando o que o Jornal Bandeirantes chamou "o feitiço" Fernando Henrique Cardoso. Se não como companheiro de chapa, então como um futuro aliado de governo.
Pelo PFL, falou Marco Maciel: "Nós achamos que há com o PSDB uma identidade de pontos de vista. Isso está muito claro agora, na revisão constitucional."
Pelo PT, Paulo Delgado: "Nós não somos a extrema esquerda. Temos que ir pelo meio. É pelo centro que o PT cresce, com o PSDB, vence a eleição e governa."
Está certo o candidato FHC. Tanto entusiasmo, com tanta disparidade, assusta.

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