São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
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Vereador acusa empreiteiras de coletar terra e cobrar como lixo

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O vereador Ítalo Cardoso denunciou ontem ao Ministério Público que empreiteiras de São Paulo estão coletando terra e entulho e cobrando como lixo coletado. O vereador teve acesso aos tíquetes de pesagem dos caminhões nos aterros sanitários e concluiu que, no ano passado, o volume de varrição de ruas nas administrações regionais da Penha, São Miguel Paulista e Itaquera foi até 6,3 vezes maior que em 92.
Ao analisar cada tíquete o vereador descobriu que, de fato, a varrição não cresceu. Na documentação, foram encontrados tíquetes de caminhões que pesaram até 19 toneladas líquidas ou que fizeram três viagens em menos de quatros horas. "É impossível um caminhão de lixo pesar mais de 11 toneladas ou fazer mais de duas viagens em 12 horas. Isso prova que as empresas transportaram terra e entulho e faturaram como lixo", afirma Cardoso.
A assessoria do vereador apelidou o levantamento de "Operação Raimundo Flamel", uma alusão ao personagem de Edson Celulari na novela "Fera Ferida". Na TV, Flamel é um alquimista que transforma terra em ouro.
Segundo o vereador, a "Operação Flamel" tem a aprovação da própria prefeitura. Na zona leste de São Paulo, com exceção da Mooca e de São Miguel Paulista, as empreiteiras do lixo não têm contrato para coleta de entulho e terra. A prefeitura, para não deixar entulho em calçadas e em terrenos baldios, teria autorizado a cobrança do resíduo como sendo lixo, o que é ilegal.
A operação também seria lesiva aos cofres públicos. "O custo do transporte de lixo, que é coletado em centenas de pontos, é muito maior que o do transporte de terra, que é coletado em um único lugar", afirma Cardoso. A Folha apurou que nos bairros em que há contratos para coleta de terra e entulho esse serviço custa, em média, 10% a menos do que é cobrado pela coleta de lixo.
"Roubalheira"
O secretário Reynaldo de Barros disse em entrevista à Folha na semana passada que existem "certas roubalheiras" na limpeza urbana da cidade. Segundo ele, empreiteiras estariam "carregando terra e cobrando como lixo". Barros não disse quais empresas teriam cometido a fraude.
Devido à afirmação do secretário, o Decon (Departamento Estadual de Polícia do Consumidor) instaurou quarta-feira inquérito policial para investigar o caso.

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