São Paulo, sábado, 5 de março de 1994 |
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Filme dá ênfase a sentido trágico da cidade
BERNARDO CARVALHO
"Escrever e dirigir são ambos atos de descoberta", escreveu o diretor na introdução para a edição com as nove histórias antes publicadas em outros livros. É exatamente por acreditar que filmar é um "ato de descoberta" e não apenas um ato de respeito, que Altman realizou um dos melhores filmes americanos dos últimos anos, com uma maturidade e uma delicadeza de direção raramente vistas num país onde, no geral, o cinema parece se infantilizar a passos largos. O cineasta também decidiu mudar o cenário. Transportou o mundo de Carver da costa noroeste dos EUA, onde vivia o escritor (no estado de Washington), para os subúrbios de Los Angeles, sob um calor intenso, com helicópteros que sobrevoam a cidade jogando inseticida contra a proliferação de uma mosca-varejeira. Altman deu ênfase a um sentido trágico, que era menos evidente nos contos, ao optar por essa liga (todos são habitantes de uma mesma cidade, sujeitos a uma mesma praga, ao efeito dos helicópteros que os sobrevoam, e aos desígnios da natureza –não poderia faltar a cena do terremoto, que pega cada um num momento dramático específico de suas vidas). Nem por isso, sob esse tom mais grandiloquente, o cineasta deixou de tratar e dirigir cada um dos personagens com a delicadeza e o cuidado que a prosa milimetricamente emocionada de Carver pedia. (Bernardo Carvalho) Texto Anterior: Matthew Modine compara Altman a Kubrick Próximo Texto: Balé do San Martin dança no Memorial Índice |
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