São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
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Voto a favor

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O senador Jarbas Passarinho (PPR-PA) tem toda a razão ao dizer que é um erro a frenética busca de uma "candidatura anti-Lula". Tem razão, inclusive, no argumento central que utilizou: "Nós temos que ter nomes pró-idéias e não contra uma determinada pessoa".
Cabe apenas um argumento adicional. O que o Brasil mais precisa, hoje, é de uma ruptura democrática ou, se preferirem uma versão mais light, de alternância no poder. A história recente (e não tão recente) indica que jamais se deu uma alternância efetiva de nomes, práticas e métodos no governo, exceto pela violência (em 1930 e em 1964), seguida por longos períodos autoritários. Só nessas duas ocasiões, o "novo" de fato superou o "velho", sem pretender entrar em qualquer tipo de valoração sobre as vantagens do novo sobre o velho ou vice-versa.
O restante da história republicana brasileira é feita de acomodação, de que o PFL talvez seja o exemplo mais escarrado. Seus líderes, então abrigados na Arena (depois PDS), eram governo no ciclo militar, romperam com o PDS para continuar governo na transição, e continuaram governo com Collor, embora Collor fosse o mais vociferante crítico do governo Sarney, que o PFL apoiou em todos os momentos. E preparam-se, agora, para tentar continuar governo, a bordo de uma aliança com o PSDB, embora este partido tenha nascido para ser oposição a Sarney e parte de suas lideranças mais expressivas tenha feito oposição também a Collor.
A eleição de 94 é a oportunidade de, democraticamente, provocar uma efetiva alternância no poder. O PT, goste-se ou não dele, simboliza muito essa ruptura e, por extensão, qualquer aliança puramente anti-PT acabará escorregando para ser também (ou principalmente) anti-ruptura.
O correto, como diz Passarinho, é buscar ser pró-alguma coisa. É oferecer, cada um, a sua própria proposta rupturista, até porque ninguém, em sã consciência, é capaz de defender o indecente status quo (o que, de resto, seria mortal eleitoralmente). E, aí, o eleitorado julgará a credibilidade de cada oferta, votando a favor e não contra, ao contrário do que vem sendo a norma.

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