São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
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Corrupção nos hospitais

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Mais uma grave denúncia sobre desvios de médicos chegou ontem a esta coluna, apresentada pelo maior empresário privado brasileiro, Antonio Ermírio de Moraes, presidente do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Ele contou ser "prática comum" em todo o país médicos cobrarem "por fora" de pacientes do Inamps.
É simples entender. O paciente vai a um hospital conveniado com o Inamps. Não deveria pagar nada, mas o médico cobra uma taxa clandestina –o que é absolutamente ilegal. Muitos pagam, temendo não serem atendidos ou, no mínimo, atendidos com desleixo. "É condenável. Mas será que a culpa dessa delinquência é só do médico?", pergunta Antonio Ermírio de Moraes.
Ele divide a responsabilidade com o governo: "Eles pagam pouco aos médicos conveniados e, ainda por cima, atrasam". Daí alguns (e não são poucos) se sentirem estimulados a cobrar "por fora". "Em alguns casos, até se justifica. Temos muitos pacientes milionários que usam o Inamps para não pagar nada. Por que temos de subsidiar operações caríssimas a alguém que pode pagar?"
Antonio Ermírio comenta que o hospital que dirige, um dos maiores de São Paulo, paga alto preço por manter convênios com Inamps, o que dificulta sua administração. Discretamente, critica algumas ilhas de excelência da medicina brasileira e até mesmo latino-americana, como os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein. "Eles não fazem convênio com o Inamps e pobre não passa nem na porta".
Uma cirurgia do coração (troca de válvulas ou ponte safena) custa num país de Primeiro Mundo, segundo ele, US$ 25.000. Mas o Inamps apenas reembolsaria US$ 2.500. Aliás, não são poucas as denúncias que chegam sobre médicos que fraudam operações ou inventam gastos. Não é mentira, está documentado: descobriu-se até operação de fimose em mulher e parto em homem.
PS – Recebi uma boa notícia do Hospital das Clínicas da Universidade de Goiás. Eles entregam para cada paciente um didático manual sobre seus direitos e como analisar os procedimentos médicos. E estimulam que sejam feitas denúncias à comissão de ética do hospital.

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