São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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'Aliança democrática' ameaça Lula

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

A formação de uma nova "aliança democrática" para disputar a eleição presidencial tenderia a causar dificuldades mais ou menos sérias para a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que continua sendo o primeiro colocado na preferência do eleitorado, na nova pesquisa do Datafolha, feita nos dias 28 de fevereiro e 1º de março. Na tarde do dia 28, foi anunciada a segunda fase do plano FHC, motivo pelo qual a pesquisa capta apenas parcialmente seus efeitos sobre a sucessão.
A "Aliança Democrática" original foi criada em 1984, ano em que uma dissidência do PDS (hoje PPR) formou o PFL e aliou-se ao PMDB para apoiar a candidatura de Tancredo Neves contra a de Paulo Maluf, na eleição indireta do ano seguinte. A nova "aliança democrática", que está sendo discutida nos meios políticos, incluiria o PSDB (cisão do PMDB), o PFL e partidos menores, além de dissidentes do PMDB, como o deputado Antônio Britto (RS). O candidato, em princípio, seria o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.
A pesquisa do Datafolha não inclui essa eventual coligação, mas os resultados isolados obtidos por expoentes desse ensaio de aliança permitem deduzir dificuldades para Lula. Exemplo: somadas as intenções de voto em FHC, em Britto e no governador Antônio Carlos Magalhães (PFL), chega-se a 27%, apenas três pontos percentuais atrás de Lula e seus 30%.
É claro que nem sempre ocorre essa transferência automática de votos. Ou seja, se Britto não for candidato e apoiar FHC, isso não significa que todos os potenciais eleitores do deputado gaúcho seguirão essa orientação e votarão em Fernando Henrique. Mesmo assim, parece óbvio que uma aliança como a que se cogita traria mais votos para o seu candidato do que a dispersão que hoje ocorre entre os diferentes candidatos dos vários partidos da suposta coligação. Com a dispersão, a diferença entre Lula e os dois segundos colocados (Britto e Paulo Maluf, do PPR) oscila entre 15 e 17 pontos percentuais, conforme a situação proposta aos eleitores.
Estabilidade
O exame do mapa estadual de votação reforça essa impressão. No Rio Grande do Sul, Britto derrota Lula (30% x 27%), assim como, na Bahia, ACM ganha do petista (42% x 30%). Já no Ceará, é Ciro Gomes (PSDB), atual governador, quem vence Lula (48% x 22%).
Todos os três juntos, puxando votos para um único candidato, tenderiam a criar complicações para o líder da pesquisa. Essa interpretação é, a rigor, a única novidade permitida pela pesquisa desta semana, no que se refere ao primeiro turno. Ela mostra uma surpreendente estabilidade na intenção de voto nos possíveis candidatos. Todos se movem apenas um ponto percentual, o que é estatisticamente desprezível.
Lula fica entre 29%, em uma situação, e 30% nas três restantes, enquanto Britto e Maluf oscilam entre 13% e 14%. FHC vai de 8% para 9%, em uma situação, mas chega a 11% quando Britto é excluído do cartão com os nomes de presidenciáveis. Brizola se mantém entre 8% e 9% e ACM é o único que tem uma movimentação maior (e para pior): cai de 7% para 5% na primeira situação.
Uma segunda novidade aparece nas simulações de segundo turno, nas quais diminui –e, aí sim, com alguma força- a diferença de Lula para seus potenciais adversários. Se fosse Britto a concorrer com o petista, a vitória de Lula se daria por 11 pontos percentuais, sete a menos do que na pesquisa anterior (dezembro). Já se Maluf chegar ao turno final, perderia de Lula por 18 pontos percentuais (23 pontos em dezembro). Contra FHC, que não aparecia em dezembro nas simulações de segundo turno, a vantagem de Lula fica em 16 pontos.
No caso específico do PMDB, a pesquisa demonstra que os dois únicos pré-candidatos já lançados (Orestes Quércia e Roberto Requião) são justamente os menos desejados pelo eleitorado. Quércia tem apenas 8% e, Requião, a metade. Ganham deles Britto e o ex-presidente José Sarney (24% cada um) e o governador paulista Luiz Antonio Fleury Filho (9%).

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